Laíre Rosado: Maltratar o presidente da Câmara é caminho para o desastre

A história do país é rica em exemplos de presidentes da República que se desentenderam com o Poder Legislativo e se deram mal. Fazendo uma retrospectiva a partir dos anos 60, tem o exemplo de Jânio Quadros, que se repetiu com Fernando Collor. A ex-presidente Dilma Rousseff também não gostava de dialogar com o Congresso e foi afastada da presidência por um processo de impeachment. Ao que parece, o atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, decidiu trilhar pelo mesmo caminho, mesmo tendo a experiência de muitos anos de mandato parlamentar.

São mais de cem dias de administração. A cada dia que passa o governo enfrenta mais problemas, com um detalhe peculiar. As dificuldades não são criadas pela oposição, mas pelos familiares, seus filhos e, depois, pelos próprios aliados.

O presidente Bolsonaro afirma que a reforma da Previdência é sua prioridade de governo. Para que isso aconteça, é necessário uma reforma constitucional, que exige três quintos dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49).

O deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, vinha sendo importante aliado, disposto a articular o voto dos deputados. De um momento para outro, passou a ser hostilizado por um dos filhos do presidente, com mensagem retuitada pelo pai. Decidiu renunciar à missão e entregá-la ao presidente da República.

Como observador da cena política, evitando interferir diretamente nos assuntos de governo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz um alerta a Bolsonaro: “paradoxo brasileiro: os partidos são fracos, o Congresso é forte. Presidente que não entende isso não governa e pode cair; maltratar quem preside a Câmara é caminho para o desastre. Precisamos de bom senso, reformas, emprego e decência. Presidente do país deve moderar, não atiçar”.