Francinaldo Rafael – O féretro

O féretro seguia, devagarinho, pelo estreito caminho da fazenda. As plantações, o gado e as benfeitorias indicavam a riqueza do proprietário das terras. O cemitério ficava a dois quilômetros de distância.  O caixão, todo branco, indicava tratar-se do sepultamento de uma criança. Os acompanhantes eram poucos, apenas os familiares e os padrinhos. Todos pareciam muito tristes e o cântico, quase um murmúrio, confirmava a angústia daqueles corações. Eram lavradores simples e suas mãos cheias de calos mal podiam segurar as alças do caixãozinho.

Um carro parou, rente ao caminho, na rodovia, a pedido da filha do dono do veículo, para que ela pudesse observar, de perto, aquele enterro.

– Filhinha, disse o pai que não a contrariava, é uma tolice o que você está pedindo. É pura perda de tempo.

– Mas eu quero ver, papai – resmungou a jovenzinha de seus dez anos.

Faltavam alguns passos, para que o féretro entrasse na rodovia, dando seguimento ao seu destino.

– Veja, papai, eles são muito pobres. Aquela mulher deve ser a mãe. Ta chorando muito. Coitada, está descalça. O homem, também.

– Vamos embora, meu  bem – disse o pai. Detesto presenciar estas cenas.

O caixão chegou à rodovia. Colocaram no chão para descansar. O velho lavrador enxugou o suor do rosto com a manga da camisa, parecendo meio sem jeito à frente daquele homem de aparência tão importante, que descera do carro.

– É parente seu? – perguntou o recém-chegado.

– Minha filha – respondeu com os olhos cheios de lágrimas – morreu por falta de recurso.

– Ah! Lamento! – disse o interlocutor, e puxou a menina para que entrasse no carro, demonstrando certa contrariedade. Ficou ainda mais surpreso, quando o lavrador perguntou:

 – O sinhô foi bem de viagem?

– Eu?

– É, num tava no instrangero?

– Como sabe?

Pigarreando, Horácio respondeu que estava muito cansado e que a Europa era um lugar muito bom para descansar a cabeça.

– Se me der licença, eu e minha filha vamos andando.

– Ocê ta muito bonita Rosemary. Deus ti abençoe.

– A menina cochichando com o pai, falou que o homem a conhecia. Horácio, estranhando, perguntou:

– Você nos conhece?

– Sim sinhô!

– Onde é que mora?

– Na fazenda, doto.

– Sim, mas que fazenda?

– Na sua.

Esta psicografia do Espírito Hilário Silva ditada à médium Irene Carvalho, evidencia um fato que pode acontecer com muitos de nós. Pessoas próximas necessitando algum tipo de apoio, e a gente sem se dar conta de que pode ser útil. Reflitamos.