A Eleição do ANTI

 

Talvez a sociedade tenha mudado mais nos últimos 50 anos que nos outros mil anos para trás. No mundo inteiro há exemplos de movimentos extremistas aparecendo, pegando onda na globalização não só dos negócios, mas também das opiniões. Cada vez mais pessoas se unem em torno de ideias, sejam elas boas ou não.

Em “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”, Yuval Harari mostra porque o homo sapiens prevaleceu sobre as outras espécies de humanos outrora existentes em nosso planeta. Foi através da criação de crenças, do poder de pensar o que não existe e conseguir que várias pessoas sigam aquela ideia, seja ela de um deus, de um modelo social ou mesmo um modelo econômico, como o capitalismo.

Daniel Innerarity, em “A política em Tempos de Indignação”, mostra como os sentimentos podem sobrepor a razão e os problemas que isso pode causar. Há, no mundo inteiro e não só no Brasil, um sentimento de decepção com a classe política e a aparente incapacidade de corresponder aos anseios da população. Em tempos em que a informação chega quase que instantaneamente ao mundo todo, muitas vezes sendo contaminadas pelas opiniões que corrompem os fatos, ou pior, como pura fake News, isso se torna ainda mais perigoso.

É preciso manter sempre à frente o fato de que a política é o único poder capaz de resolver os problemas provocados justamente pela crise política, a forma de quem não tem poder econômico influenciar os destinos de uma nação. A ideia de Estado Mínimo, ficando estritamente com funções de controle e vigilância deixaria milhões de famintos e desamparados sem suporte e abandonados à própria sorte, além de ver espaços geográficos cada vez maiores ocupados pelo crime organizado. No entanto, o maior desafio nos parece ser manter autonomia política diante do poder econômico do “mercado” financeiro, dos interesses de alguns poucos que, mais uma vez digo, no mundo todo e não só no Brasil, dominam a maioria através do poder do dinheiro.

Esta é a primeira eleição que, de fato, está sendo influenciada mais fortemente pelas redes sociais. Os robôs online estão agindo fortemente a serviços de diversas campanhas hora para espalhar notícias falsas, hora para disseminar pontos fortes de quem paga pelo serviço. Os grupos de WhatsApp e Facebook são fontes da (des)informação, onde as pessoas se apoiam naquilo que justamente querem acreditar. Não importa muito se é fato ou fake, o importante é que tenha algo para subsidiar o que acredita.

O que estamos vivendo na eleição deste ano, infelizmente, é uma polarização de extremos e estamos caminhando para um segundo turno onde não se escolhe o melhor candidato, mas vota naquele que disputa com o que você não gosta. Ou seja, em se confirmando o 2º turno entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), como mostram as mais recentes pesquisas, vamos ter a eleição dos ANTI. O ANTI PT vai votar em Bolsonaro e o ANTI Bolsonaro vai votar no PT. Vencerá quem tem menos rejeição, pois os votos dos que realmente acreditam que um ou outro é o melhor não seria suficiente para vencer a eleição.

Já dizia o filósofo alemão Theodor Adorno: “liberdade não é poder escolher entre o preto e o branco, mas sim abominar este tipo de propostas de escolha”.