Nem tudo que reluz é ouro: o declínio dos “políticos-tiktokers” se aproxima
O afastamento do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, marca um divisor de águas na era dos “prefeitos-tiktokers”. O caso não é apenas um escândalo local, ele pode vir a simbolizar o colapso de um modelo de gestão que confundiu administração pública com performance digital. Manga ganhou projeção com vídeos virais que ultrapassaram milhões de visualizações, superando reiteradamente o número de habitantes da própria cidade e atingindo marcas superiores às de influenciadores consagrados.
O fenômeno dos “prefeitos-tiktokers” se espalhou pelo país. Como mostra levantamento da CNN, capitais como Recife, Rio de Janeiro, Florianópolis, Salvador e Maceió também aderiram à lógica da viralização, muitas vezes com alto nível de profissionalização, uso de inteligência artificial e estratégias calculadas para alcançar, sobretudo, os eleitores jovens. Mas acredito que existe um limite. Quando a estética substitui a entrega, a população percebe ou, ao menos, espera-se que perceba.
A performance de Manga reforçou uma lógica na qual o governante precisa ser visto mais do que ser eficiente. Guy Debord, em 1977, já havia alertado que, na sociedade do espetáculo, a imagem não apenas representa a realidade: ela a substitui. Nesse universo em que prefeitos se convertem em influenciadores, a gestão se torna cenário e o celular transforma-se em instrumento central de governo. Mas até quando isso se sustenta?
No caso do prefeito de Sorocaba, tudo ia muito bem até que a bomba estourou: um escândalo de corrupção e o afastamento do cargo por decisão judicial. A pergunta que permanece é: a força no digital será suficiente para suavizar o impacto da crise em sua imagem? Ainda será necessário observar os dados ao longo do tempo, mas é fato que um grupo de apoiadores segue fiel. Veremos se essa base será suficiente para sustentar seu capital político.
Neste contexto, há um ponto relevante: diferentemente do comportamento usual de políticos tradicionais, que divulgam notas de esclarecimento e somem das redes sociais digitais, o prefeito afastado de Sorocaba dobrou a aposta. Manga segue produzindo vídeos com ganchos visuais estridentes, desviando a atenção dos fatos e das investigações que o apontam como líder de uma quadrilha. A cada nova aparição, a estratégia se intensifica, teve até a coragem de intensificar a venda do seu curso de formação de políticos. O prefeito que vive da produção de conteúdo deixa de governar para a comunidade e passa a governar para a audiência.
Manga continua atuando diante do público de forma permanente, administrando percepções e emoções em lugar de apresentar respostas concretas. O que Schwartzenberg descreveu em 1977 como “Estado-espetáculo” parece encontrar nele um caso exemplar. Terá adotado essa lógica para não ser esquecido ou para deslocar o foco da crise? Faça sua aposta!
Assim, a situação enfrentada pelo prefeito de Sorocaba torna-se um cenário oportuno para observar até que ponto o capital simbólico das redes resiste quando confrontado com denúncias de corrupção. Em algum momento, a política volta a ser julgada pelo que entrega não apenas pelo que posta.
Foto: FolhaPress