Alex Medeiros
@alexmedeiros1959

Em 15 de abril de 2023 publiquei crônica para a atriz Claudia Cardinale que chegava aos 85 anos e narrei meu primeiro contato com sua estampa no escurinho do Cine São José, no filme A Moça com a Valise e que vi dez anos depois do lançamento. Ela partiu terça-feira e por isso edito parte do texto.

Cardinale estreou no cinema aos 19 anos em 1958, e apenas três anos depois já tinha uma dúzia de filmes na explosiva carreira. A sensualidade morena conquistou os maiores cineastas e gerou ciumeira de algumas outras estrelas.

No primeiro contrato com o produtor Franco Cristaldi, escondeu uma gravidez acidental e contracenou com um desconhecido chamado Omar Sharif. Foi ter o bebê em Londres, aceitando a imposição contratual de não casar até 1965.

Inesquecível o impacto da sua imagem na tela, a morenice lembrando a paquerinha da casa vizinha; a cena inusitada para olhos adolescendo, vidrados no seu gesto de sair do carro e buscar lugar para levantar a saia para um xixi.

Depois os anos foram passando com ela presente no repertório dos grandes clássicos, alguns deles revistos algumas vezes, como O Leopardo, de Visconti (1963); 8 1/2 de Fellini (1963); e Era Uma Vez no Oeste, de Leone (1968).

Claudia Cardinale foi tratada como “Namoradinha da Itália”, o que reforçou o ciúme da já bastante consagrada Sophia Loren. Não foi sem real motivo que Carlo Ponti, o produtor e marido de Sophia torrou grana em novas produções.

A italianinha era adorada pelos grandes diretores e potencializou a fama e o estrelato por dizer não a pretendentes do porte de Marlon Brando, Alain Delon e Marcelo Mastroiani, que babaram por ela sem jamais encostarem o nariz.

Ela correspondeu a atenção dos mestres com afagos: “Visconti tinha uma expressão forte, Fellini era estimulante engraçado, Sergio Leone encantador, Orson Welles foi um cara impressionante”. E de John Wayne: “um cavalheiro”.

Morreu aos 87 anos com quase 70 anos de carreira. Claudia Cardinale foi uma das mais expressivas e conceituadas atrizes da história do cinema. Considerava filmes como filhos, em que não se pode escolher um preferido.

Numa entrevista dos anos 90, disse que se fosse obrigada a elencar um dos tantos que fez, certamente optaria por A Garota de Bube (1964), do diretor Comencini: “o lado indomável da personagem é um que sempre quis mostrar”.

Tunisiana de nascimento, italiana de cidadania e francesa culturalmente – como ela mesma se definia – Claudia Cardinale disse que na infância a beleza da família, a princesinha, era sua irmã Blanche, uma loirinha de olhos azuis.

Elas superaram o horror da Segunda Guerra mastigando torrões de açúcar dados pela mãe. Isso talvez tenha moldado o talento de ser facilmente doce e amarga na interpretação. Uma estrela de infinita grandeza. Como cantou Caetano, “em Cardinales bonitas eu vou”.

Publicado em Tribuna do Norte

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