Mensagens falsas tentam incentivar saques em massa do Banco do Brasil
“Tire seu dinheiro do Banco do Brasil”
“Brasileiros sacando seu dinheiro pelo risco Moraes/Dino”.
Há pouco mais de uma semana, muitos brasileiros que abriram as redes sociais e os grupos de WhatsApp receberam mensagens como essas em forma de vídeo, foto e texto.
Mas, desde segunda-feira (25/8), elas também estão nas mãos da Polícia Federal (PF).
Sob argumento de que tinham como objetivo “gerar caos no sistema financeiro nacional”, a Advocacia-Geral da União (AGU), acionada pela Procuradoria do Banco Central (BC), enviou uma notícia-crime à PF pedindo abertura de uma investigação.
“Observa-se uma ação articulada de disparo massivo de publicações que buscam aterrorizar a sociedade”, disse a AGU.
Uma percepção que se confirma com dados de monitoramento de mais de 100 mil grupos públicos no WhatsApp e 5 mil no Telegram.
O levantamento da empresa de análise de tendências sociais Palver, a pedido da BBC News Brasil, mostra que o Banco de Brasil virou tema frequente de mensagens na segunda quinzena de agosto, com uma prevalência clara de mensagens com conteúdos alarmistas sobre o futuro da instituição.
“A maior parte das mensagens tinham como objetivo principal causar pânico, uma vez que esse é um tema bastante sensível para a população brasileira, vide o fantasma da inflação e do confisco das poupanças”, analisa o cientista de dados Lucas Cividanes, da área de inteligência e análise da Palver.
Tirar dinheiro do Banco do Brasil? Como grupos de WhatsApp acreditaram em ‘falência’ devido a sanções dos EUA
Nos últimos dias, Banco do Brasil foi alvo de campanha de notícias falsas para gerar pânico, segundo a AGU. Levantamento da plataforma de monitoramento Palver mostra que nos grupos de WhatsApp houve prevalência clara de mensagens com conteúdos alarmistas sobre o futuro da instituição.
TOPO
Por Vitor Tavares — São Paulo
29/08/2025 14h20 Atualizado há 35 minutos
Valdo: cerco a ‘fintechs’ gera tensão em Brasília
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Há pouco mais de uma semana, muitos brasileiros que abriram as redes sociais e os grupos de WhatsApp receberam mensagens como essas em forma de vídeo, foto e texto.
Mas, desde segunda-feira (25/8), elas também estão nas mãos da Polícia Federal (PF).
Sob argumento de que tinham como objetivo “gerar caos no sistema financeiro nacional”, a Advocacia-Geral da União (AGU), acionada pela Procuradoria do Banco Central (BC), enviou uma notícia-crime à PF pedindo abertura de uma investigação.
“Observa-se uma ação articulada de disparo massivo de publicações que buscam aterrorizar a sociedade”, disse a AGU.
Uma percepção que se confirma com dados de monitoramento de mais de 100 mil grupos públicos no WhatsApp e 5 mil no Telegram.
O levantamento da empresa de análise de tendências sociais Palver, a pedido da BBC News Brasil, mostra que o Banco de Brasil virou tema frequente de mensagens na segunda quinzena de agosto, com uma prevalência clara de mensagens com conteúdos alarmistas sobre o futuro da instituição.
“A maior parte das mensagens tinham como objetivo principal causar pânico, uma vez que esse é um tema bastante sensível para a população brasileira, vide o fantasma da inflação e do confisco das poupanças”, analisa o cientista de dados Lucas Cividanes, da área de inteligência e análise da Palver.
De pano de fundo para o “alarme”, está a atuação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Alvo do governo de Donald Trump, nos EUA, por supostamente comandar uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, Moraes foi sancionado pela chamada Lei Magnitsky no final de julho.
A lei americana visa sancionar estrangeiros que promovam violações de direitos humanos — no caso de Moraes, um dos argumentos foi que o ministro abusa de sua posição de autoridade para minar a “liberdade de expressão” de cidadãos americanos, já que ele pediu suspensão de contas e redes sociais que desrespeitaram decisões judiciais no Brasil.
As sanções da Magnitsky visam estrangular financeiramente o alvo e incluem congelamento de bens nos EUA e proibição de qualquer pessoa ou empresa dos EUA de realizar transações econômicas com o indivíduo.
É aí que entra o Banco do Brasil. É pelo banco que os ministros do STF recebem salário.
Em tese, pela Magnitsky, cartões de crédito de Moraes emitidos por bandeiras americanas, como Visa e Mastercard, teriam que ser cancelados. Além disso, ele não poderia ter contas e investimentos em bancos que atuem no mercado americano, apesar de não estar claro qual o alcance das medidas.
De acordo com reportagem do jornal Valor Econômico em 21 de agosto, um cartão de crédito do ministro do BB foi cancelado e a ele foi oferecido um cartão Elo, de bandeira nacional — informação não confirmada oficialmente pelo banco nem pelo ministro.
Foi justamente nessa data em que foi registrado o pico de menções ao Banco do Brasil nos grupos de mensagens, segundo o levantamento da Palver.
Mas o que alimentou mesmo o tom do discurso dos influenciadores bolsonaristas foi uma nota divulgada pelo próprio Banco do Brasil em 19 de agosto.
Nela, a instituição dizia: “O Banco do Brasil atua em plena conformidade à legislação brasileira, às normas dos mais de 20 países onde está presente e aos padrões internacionais que regem o sistema financeiro”.
No WhatsApp, o apego foi à frase “O Banco do Brasil atua em plena conformidade à legislação brasileira”.
Um dia antes da publicação da nota, o ministro Flávio Dino, do STF, havia proibido a aplicação no Brasil de sentenças judiciais e leis estrangeiras que não estejam validadas por acordos internacionais ou referendadas pela Justiça brasileira.
Isso incluiria a Lei Magnitsky, usada para retaliar Moraes.
Estava formada aí a “tempestade perfeita” para a campanha contra o BB nas redes.
A escalada contra o BB
Os dados analisados pela Palver mostram que o início da onda de mensagens sobre o Banco do Brasil começou, na verdade, no dia 14 de agosto, antes da decisão de Dino. Foi ali que o número de menções à instituição escalaram até chegar ao pico no dia 21.
No dia 14, foi divulgado que o Banco do Brasil teve um lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões no segundo trimestre deste ano — 60% menor que o registrado no mesmo período do ano passado e pior do que esperado pelo mercado.
Entre os motivos, está a alta na inadimplência de pessoa física e do agronegócio — o BB é o maior financiador do setor do país, que enfrenta uma onda de recuperações judiciais.
Na análise de Reinaldo Boesso, fundador da fintech TMB e com atuação em fundos de investimentos, o problema no agro também está por trás de outra notícia sobre o BB que inflamou a base bolsonarista.
No dia 21, o banco divulgou que os dividendos referentes ao terceiro trimestre de 2025 serão pagos integralmente apenas em 11 de dezembro de 2025, segurando o pagamento antecipado.
“É um problema econômico que ele está se precavendo e ponto. E está tudo bem. Isso é claramente o que o mercado financeiro sempre fez: segurar quando dá algum problema para se manter capitalizado e não ter uma crise”, avalia Boesso.