A maior estrela de Natal

Alex Medeiros

por Redação Tribuna do Norte

Há cem anos, Natal viu nascer uma menina de olhos castanhos e sonhos de cena. Ninguém poderia prever, nem mesmo ela, que aquelas mãos frágeis iriam segurar com firmeza os bastidores do teatro, da televisão e do cinema brasileiros. Seu nome é Gracinda Freire e por décadas foi sinônimo de talento, presença cênica e carisma nas telenovelas brasileiras.

Sua carreira, iniciada em 1951 no teatro amador e consolidada nos grandes palcos, sempre esteve marcada por personagens que equilibravam emoção e humor, força e doçura. Qualidades que a levaram para a televisão e o cinema, onde por 40 anos emprestou seu estilo, sua experiência e seu carisma. Mas não foi feita para o estrelato rápido. Foi forjada no fogo lento da entrega.

Nascida em 31 de julho de 1925, Gracinda construiu uma carreira no centro da criação artística, a partir de um curso de teatro no Rio de Janeiro. Em pouco tempo criou sua própria companhia e foi dividir palco com os grandes astros.

Ela integrou o ciclo virtuoso dos anos 1950 e 1960, quando o teatro brasileiro buscava sua própria identidade entre as influências europeias e os dramas sociais do país. Quando a TV surgiu no país, lá estava ela no cast da Tupi.

Atuou em montagens memoráveis e foi pioneira nos teleteatros e curtas novelas, ao vivo, num tempo que era proibido errar. Ela ajudou a moldar a linguagem dramática televisiva brasileira e botou os alicerces das telenovelas.

Figura de referência para uma geração de artistas, Gracinda pertenceu a uma linhagem rara de atrizes que viveram a transição entre o teatro de grupo, o rádio teatro dos anos dourados e a televisão em seus primeiros passos.

Sua atuação em peças como As Mãos de Eurídice, de Pedro Bloch, ou Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, é lembrada por colegas e críticos como momentos de verdadeira alquimia entre atriz e personagem.

Após os teleteatros na Tupi, Cultura e Globo, estreou nas novelas em 1966 na TV Rio com A Herança do Ódio, uma adaptação de Janete Clair para uma radionovela de Oduvaldo Viana que fora transmitida em 1951 na Rádio Tupi.

A primeira telenovela na Globo veio em 1967 com A Sombra de Rebecca, da cubana Gloria Magadan, onde atuou ao lado de Mário Lago, Yoná Magalhães, Carlos Alberto, Norma Bengell e Miriam Pires, nomes que viraram ícones.

Ela estava também nas duas novelas que marcariam o nome de Regina Duarte na emissora carioca e nas salas dos brasileiros: Véu de Noiva, de 1969, e Minha Doce Namorada, de 1971, que deu a Regina apodo de “namoradinha”.

No teatro, contracenou com gigantes como Procópio Ferreira, a filha dele Bibi, Grande Otelo, Agildo Ribeiro, Paulo Gracindo, Ruth de Souza, Guarnieri, Odete Lara, Alda Garrido, Jece Valadão. E passou dois anos em excursão na Europa.

Estreou no cinema em 1962 com dois sets de filmagem: Três Cabras de Lampião, do marido Aurélio Teixeira (falecido em 1973), e O Assalto ao Trem Pagador, de Roberto Farias, que se tornaria um clássico do cinema nacional.

Na grande tela contracenou com nomes como Jorge Dória, Reginaldo Farias, Dirce Migliaccio, Helena Inês (a queridinha dos cineastas do Cinema Novo), Mário Lago e até com a turma dos Trapalhões, estrelando em dois filmes.

Foi dirigida por grandes mestres do cinema nacional, como J. B. Tanko, Cacá Diegues, Antonio Calmon, Alex Viany, Eduardo Coutinho, Luís Sergio Person, Miguel Faria Jr., Alberto Salvá, Sílvio de Abreu, Pedro Camargo e Perry Sales.

Das telenovelas na Globo, brilhou em algumas do cânone das mais célebres, como Rosa Rebelde, O Semideus, O Feijão e o Sonho, Sem Lenço Sem Documento, Dancin Day’s, Feijão Maravilha, Chega Mais e Sétimo Sentido.

Nesse 31 de julho é o centenário do seu nascimento. Gracinda Freire faleceu em 11 de julho de 1995, vinte dias antes de completar 70 anos.

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