Silêncio dos jovens artistas: Medo de Cancelamento ou desconexão com a democracia?

O último domingo, 21,  reuniu nas ruas do Brasil vozes que marcaram gerações: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Geraldo Azevedo, Paulinho da Viola, Ivan Lins, Lenine. Eles, que já atravessaram décadas enfrentando censura, ditadura e perseguições, voltaram a se colocar à frente de um manifesto contra a anistia aos atos de 8 de janeiro e contra a PEC da Blindagem, proposta aprovada pela Câmara que retira da Justiça o poder de julgar crimes de parlamentares, entregando-o ao próprio Congresso.

Mas uma ausência chamou atenção: a dos artistas mais jovens.

Silêncio que inquieta

Se os nomes históricos da música e da cultura brasileira se ergueram, por que não se vê a mesma força entre as novas gerações? Seria desinteresse? Desconexão com a política? Ou haveria um medo maior: o medo do cancelamento na internet?

Vivemos tempos em que a rede dita as regras de pertencimento. Um posicionamento pode render aplausos ou linchamentos virtuais. E talvez essa lógica digital esteja silenciando vozes que, em outros contextos, estariam presentes.

Quando a arte cala, a democracia perde

A ausência dos jovens artistas levanta uma pergunta incômoda: será que o receio da rejeição nas redes sociais tem o poder de calar a defesa de direitos fundamentais? Se a democracia depende de vigilância, de coragem e de voz, o silêncio artístico também é um silêncio político.

O chamado das ruas e a lição de Ulysses

O ex-deputado Ulysses Guimarães, chamado de “Senhor Diretas” e “Senhor Democracia”, foi um dos principais líderes da redemocratização no Brasil. No calor das mobilizações pelas Diretas Já, nos anos 1980, ele cunhou uma frase que se tornou um alerta atemporal: “Político só tem medo quando o povo vai às ruas.”

Ulysses sabia que gabinetes e plenários podem tentar se blindar, como vemos agora na PEC aprovada, mas a pressão popular tem força para quebrar barreiras. Foi assim no fim da ditadura, quando milhões ocuparam as praças exigindo eleições diretas; foi assim em outros momentos decisivos da história democrática; e será sempre assim enquanto o povo se fizer presente.

Por isso, a lição permanece: a democracia não se sustenta no silêncio, mas na coragem de ocupar as ruas, erguer a voz e dizer não aos retrocessos.

E os jovens?

Se os artistas mais velhos, que já enfrentaram censura e perseguição, seguem firmes, onde estão os jovens? Permanecerão à margem, observando de seus perfis digitais, ou irão reencontrar o sentido histórico da arte como resistência e voz coletiva?

 

Por Joyce Moura

@joycemourarealize

 

Foto: Mídia Ninja

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