Presidente da COP30 descarta ‘plano B’ e diz que Brasil busca garantir que todos os países estejam em Belém

 

Presidente da COP30 descarta ‘plano B’ e diz que Brasil busca garantir que todos os países estejam em Belém

André Corrêa do Lago reconheceu a pressão de países em desenvolvimento e criticou os valores cobrados por imóveis em plataformas como Airbnb e Booking. Governo e ONU avaliam ampliar subsídios e garantir presença das delegações mais vulneráveis.

Por Roberto Peixoto, Poliana Casemiro, g1

 

01/08/2025 14h51 Atualizado há 56 minutos

 

Países pressionam governo brasileiro por causa dos preços dos hotéis durante a COP30 em Belém

Países pressionam governo brasileiro por causa dos preços dos hotéis durante a COP30 em Belém

 

 

O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, afirmou nesta sexta-feira (1º) que o Brasil trabalha para garantir que todos os países, inclusive os mais pobres, consigam participar da Conferência do Clima da ONU, marcada para novembro em Belém.

 

Segundo ele, o governo descarta qualquer plano B e mantém a capital paraense como sede do evento, mesmo após relatos de pressão internacional e pedidos de transferência por causa dos altos preços de hospedagem.

 

“Mais de dois terços dos países da ONU são consideravelmente mais pobres que o Brasil”, disse Corrêa do Lago. “Eles esperam vir para um país em desenvolvimento e encontrar uma maneira de poder estar presentes com os preços que podem pagar.”

A declaração foi feita durante uma conversa virtual com jornalistas, organizada para marcar os 100 dias da COP – contagem que começa oficialmente neste sábado, 2 de agosto.

 

“O encontro de chefes de Estado vai ser em Belém. E não há nenhum plano B”, disse Corrêa do Lago.

No encontro, o embaixador reconheceu que a crise de hospedagem gerou reações fortes por parte de delegações dos chamados países de menor desenvolvimento relativo (LDCs), pequenas ilhas e do grupo africano.

“Esses países se manifestaram de maneira muito clara na reunião. Disseram que, com a diária de 143 dólares que recebem, precisam de quartos entre 50 e 70 dólares para poder participar”, explicou. “Se você olhar hoje os preços em Belém, há centenas de quartos nessa faixa. Mas nas datas da COP, os valores disparam.”

 

Corrêa do Lago disse ainda que três grupos regionais chegaram a solicitar a mudança do local da conferência. Ele reforçou que o problema não está na capacidade de hospedagem da cidade, mas nos valores cobrados, inclusive por imóveis em plataformas de aluguel por temporada.

 

“Os hotéis estão botando preços tão altos que se tornaram referência. Esses valores estão sendo transferidos para os preços dos apartamentos também”, afirmou. “A questão não é a quantidade de hospedagem, é o preço nitidamente acima do que esses países podem pagar.”

Participação de países pobres

O governo também estuda, junto à ONU, ampliar os subsídios às delegações mais pobres. Mas, segundo a Casa Civil, há limites legais: a legislação brasileira não permite impor tabelamento de preços a hotéis nem a plataformas como Airbnb e Booking.

 

Em nota, a Secretaria Extraordinária da COP30 informou que 2.500 quartos com tarifas fixas entre US$ 100 e US$ 600 já estão disponíveis. Para os 73 países menos desenvolvidos, foram reservados 15 quartos por delegação com valores mais baixos, entre US$ 100 e US$ 200.

 

Segundo Corrêa do Lago, o Brasil quer evitar que o custo impeça a participação dessas delegações. “Queremos uma COP inclusiva, com todos os países membros (…). A ausência dos países mais pobres comprometeria a legitimidade da conferência.”

 

Além dos delegados oficiais, o embaixador destacou que o evento também precisa garantir espaço para a sociedade civil, observadores, ONGs, setor privado e cientistas. “A Rio-92 mostrou a força da participação popular. A COP30 tem que manter esse espírito”, disse.

 

Ainda de acordo com o governo, está em curso uma operação para ampliar a oferta de quartos a preços acessíveis e buscar soluções complementares, mesmo diante dos limites impostos pela legislação.

 

“Estamos oferecendo uma série de opções abaixo do que está sendo cobrado nas plataformas abertas, mas sabemos que ainda não é suficiente”, afirmou Corrêa do Lago.

A expectativa da Secretaria Extraordinária da COP30 é que cerca de 50 mil pessoas participem do evento, incluindo representantes de mais de 190 países, organizações internacionais, empresas, comunidades indígenas e movimentos sociais.

 

“O governo acredita no Plano A”, acrescentou a CEO da COP30, Ana Toni.

 

Países pediram retirada do evento de Belém

Na quinta-feira (31), André Corrêa do Lago comentou, pela primeira vez, a pressão que o Brasil recebe para transferir a conferência de Belém para outra cidade por causa do alto preço cobrado pelos hotéis. A declaração foi feita durante um encontro realizado pela Associação de Correspondentes Estrangeiros (AIE) em parceria com o IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás).

“Ficou público que países estão pedindo para o Brasil tirar a COP de Belém”, acrescentou.

Ainda segundo ele, em alguns casos, o valor das diárias foi multiplicado por 15. A prática, considerada abusiva por representantes internacionais, tem gerado um mal-estar diplomático e já motivou pedidos formais para que o evento seja realocado.

 

“Se na maioria das cidades onde as COPs aconteceram os hotéis começaram a pedir o dobro ou o triplo do valor, no caso de Belém, os hotéis estão pedindo mais de 10 vezes os valores normais”, disse o diplomata.

 

Corrêa do Lago afirmou ainda que a Casa Civil coordena um grupo de trabalho para tentar conter os preços, mas ressaltou que a legislação brasileira não permite impor limites às tarifas da rede hoteleira.

 

“Há uma sensação de revolta, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à COP por causa dos preços extorsivos que estão sendo cobrados”, afirmou Corrêa do Lago.

Os esforços para conter a crise continuam, segundo o embaixador, mas ele avalia que parte do setor hoteleiro ainda não se deu conta da gravidade da situação. Para Corrêa do Lago, o impasse ganhou outra dimensão após a entrevista do negociador africano Richard Muyungi à agência Reuters, na qual foi revelado que países chegaram a solicitar oficialmente a mudança da conferência para outra cidade.

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