Thadeu Brandão – O Mossoroense: o pioneirismo e a responsabilidade

Conta-nos o historiador mossoroense, Raimundo Nonato, em seu “História Social da Abolição em Mossoró” que “(…) Jeremias da Rocha Nogueira (…) sai pelas ruas como uma gritante novidade, no dia 17 de outubro de 1872″ Com ele, estavam nessa empreitada, nessa tarefa da divulgação do pensamento livre, José Damião de Souza Melo, um homem de decisões violentas, fulgurante inteligência e coragem de um herói guerreiro dos tempos pré-históricos, e mais Ricardo Vieira do Couto, o poder moderador colocado entre aquelas duas bombas de explosão retardada. Era, um “Órgão combativo, corajoso e agressivo, antijesuíto e carbonário” (NONATO, 2015, p. 82).

Segundo Câmara Cascudo,

“Jeremias da Rocha Nogueira, funda, a 17 de outubro de 1872, o primeiro órgão da imprensa: ‘O Mossoroense’, vindo até 1876, ajudado por José Damião de Souza Melo e Ricardo Vieira do Couto, ‘órgão do Partido Liberal de Mossoró, dedicado aos interesses do município, da Província e da humanidade em geral’” (CASCUDO, 2010, p. 129).

O fundador do O Mossoroense, Jeremias da Rocha Nogueira, era um homem autodidata, militando na justiça, rábula temível pelas suas incursões no campo jurídico, com larga atividade no meio forense, advogado da Câmara Municipal, defensor dos réus pobres, de quem não recebia nada, como coroamento de todos esses atos de irreversível independência, “um dia teve a ousadia de servir de advogado de Jesuíno Brilhante, um sertanejo audaz, espécie de maquis da caatinga, a quem negaram o direito de viver em paz, transformando-o no cangaceiro, um homem fora da lei” (NONATO, 20115, p. 83).

O jornalista Lauro da Escóssia, o homenageou falando de sua morte:  “Com uma gloriosa peregrinação de apenas 33 anos de vida, Jeremias, o pai da imprensa mossoroense deixou de existir a 29 de junho de 1881” (NONATO, 2015, p. 85).

Mais tarde O Mossoroense passou a ser “Órgão do Partido Liberal”, dedicado aos interesses do Município, da Província e da humanidade em geral. A sua primeira fase termina, segundo Vingt-un Rosado, em 1876, quando as más condições financeiras fizeram com que Jeremias da Rocha vendesse o seu prelo ao coronel Antônio Soares de Macedo, que nele imprimiria o Brado Conservador, na cidade de Assú.

Segundo Vingt-un (2006):

“Em 1901, o velho e glorioso órgão da nossa imprensa ressurgiu sob a capa d’O Eco, jornal humorístico, durando até 1902. Marca este último ano o início da 2a fase d’O Mossoroense, aos 12 de julho. São seus novos redatores o coronel Antônio Gomes de Arruda Barreto e Alfredo de Souza Melo, filho de José Damião. Gerencia-o, com muita competência, o redator-xilógrafo João da Escóssia, que também é seu proprietário. (…) Nesta segunda fase era quinzenal, passando em 1905 a publicar-se três vezes ao mês. Imprimia-o a Aurora Escossesa, depois Atelier Escóssia. Mais tarde, seria semanal, e em sua última etapa, bissemanal, saindo às quartas e aos domingos. Depois do falecimento de João da Escóssia, O Mossoroense passou a ficar sob a direção dos jornalistas Augusto da Escóssia e Lauro da Escóssia, netos de Jeremias da Rocha Nogueira e Filhos de João da Escóssia” (p. 132).

Sobreviver é a tônica deste bravo periódico. Com a era da internet e das redes sociais, passou a ser estritamente digital, mantendo seu padrão de notícias e de envergadura ética e intelectual. O dever de informar e de trazer, na era da “pós verdade”, informações de confiança. Nosso orgulho de dele participar, aqui expresso neste dia.

Parabéns “O Mossoroense”!

 

Citações

CASCUDO, Luís da Câmara. Notas e Documentos para a História de Mossoró. 5a edição. Mossoró, RN: Fundação Vingt-un Rosado, 2010.

NONATO,  Raimundo. História Social da Abolição em Mossoró. 2a ed. Mossoró, RN: Fundação Vingt-un Rosado, 2015.

ROSADO, Vingt-un. Mossoró. 2a ed. Mossoró, RN: Fundação Vingt-um Rosado, 2006.