Thadeu Brandão – Desabafo de um “professor”

Quinta-feira à noite, durante minhas aulinhas de Sociologia, nas turmas de graduação da UFERSA, discutíamos o texto de Guy Standing (economista) sobre o “precariado”. Na unidade, já havíamos discutido Bauman (Modernidade Líquida), Giddens (Globalização) e Ricardo Antunes (Mudanças do Mundo do Trabalho). Minha intenção era, para jovens que adentrarão em um mundo do trabalho incerto e extremamente competitivo (e precário), permitir uma reflexão sobre os rumos que eles podem (na medida em que deles dependam isso) seguir.
Percebo porém, como das outras vezes, que a ampla maioria (em uma das turmas foi de 100%) não haviam sequer lido os breves textos. Nenhuma inquietação, pergunta ou dúvida no ar. Era eu a falar, falar e falar e eles a, passivamente, ouvidarem (no sentido de esquecer mesmo).
Lá fui eu, com quase 40 anos de idade e 20 de sala de aula (desde que comecei como estagiário no Atheneu Norte-Riograndense em Agosto de 1996), a dar sermões sobre o papel de aluno não como expectador, mas como sujeito atuante.
Que ousadia a minha. O próprio mestre Bauman nos lembra que antes, na velha modernidade pesada, o mundo era dos que ditavam as leis, dos projetistas de rotinas e dos supervisores; o mundo de homens e mulheres dirigidos por outros, buscando fins determinados por outros. Por essa razão era também o mundo das autoridades: de líderes que sabiam mais e de professores que ensinavam a proceder melhor.
Isso tudo acabou. O papel do docente, como lembrou um aluno, é explicar normativas e rotinas. Do aluno: verificar se o Google corresponde ao dito.
Hoje, o que tenho a comemorar, senão a frustração de ter ousado achar que faria alguma diferença?
Talvez seja meu método tradicional e arcaico de didática infeliz. Quadro e discussão de textos não atraem mais os jovens. Preciso ler mais Augusto Cury e tentar dar pílulas para a felicidade.
Hoje, 15 de Outubro, sinto-me triste e solitário em meu ofício. A esperança? Abandonei-a à entrada do Inferno, como o poeta Dante em sua “Divina Comédia”.
Aos que acreditam e constroem e fazem a diferença, minha ponta de inveja e meus parabéns.