Thadeu Brandão – A distopia do Silveirismo no País de Mossoró

Por Thadeu Brandão.

Alçado ao poder por contingência da Justiça Eleitoral, Francisco José Silveira Jr., filho de político tradicional da Cidade de Mossoró, casado com figura ligada também à família tradicional (Ciarlini), o jovem prefeito teve uma meteórica e, como já dissemos uma vez, micarlizante trajetória à frente do Palácio da Resistência.

Sendo então presidente da Câmara Municipal da Cidade, ocupou interinamente o cargo de prefeito, quando do afastamento pela justiça, da então prefeita Cláudia Regina e de seu vice. Com a deflagração de eleições suplementares e tendo sua principal oponente seriamente prejudicada por decisão judicial, ganhou de forma acachapante e indelével. O poder, este senhor que não perdoa, subiu-lhe à cabeça.

Longe de fazer uma administração inovadora (como assim prometeu seu marketing e setor propagandístico), Silveira Jr. (antes Silveirinha, agora Francisco José), apostou em mais do mesmo. Com um staff que beirou o amadorismo e a incompetência administrativa, passou mais de dois anos de mandato sem nenhuma realização significativa. O pouco feito, acompanhado de fogos e muito anúncio, terminou desfeito como trágica comédia (perdoem o trocadilho): como o caso da frota de ônibus, cuja grande realização, foi cair de cerca de 30 veículos para menos de 20 hoje.

Malogrado as intenções, houveram inúmeros anúncios, nenhum concretizado. O mais tragicômico, foi a construção do Santuário de Santa Luzia. Até mesmo um milionário desconhecido iria doar 15 milhões de reais para a benesse. O termo de cooperação nunca apareceu. O benfeitor simplesmente sumiu. Ficou mais uma nota de engodo a marcar a trajetória de Silveira.

As gafes acumuladas foram também marca de sua administração. A mais célebre, a da fixação da logomarca da Prefeitura em caixões doados pela Assistência Social à famílias de baixa renda ganhou o país. Outra foi a doação de “kits” limpeza às mães de baixa renda. Em ambas, o recado foi claro: Mossoró tinha na frente da Ação Social alguém sem tato e sem experiência com a pasta. Pior: alguém que mandava, mandava mesmo e continuou a mandar até a débâcle final.

Com a queda de arrecadação e a crise econômica e fiscal que assolou o Brasil, a gestão à frente da PMM continuou na mesma: acreditou que manter marketing e propaganda, afora uma legião de blogueiros e asseclas serviria para conter o descontentamento popular. Atrasos em pagamentos, em materiais de consumo, em parcerias público-privadas e em serviços tornou-se a tônica. Longe de apertar o cinto e impor uma rígida disciplina fiscal, a fim de manter a PMM com condições de honrar seus compromissos, Silveira engatou aquilo que ele tornou-se expert em realizar: engodo. Fez uma “reforma” em suas pastas que, na prática, nada economizou.

Em outros momentos, cometeu erros políticos, frutos também de péssima assessoria e amadorismo pueril: creditou a si a diminuição dos homicídios de 2015, argumentando terem sidos as BIC’s (Bases Integradas Cidadãs) as responsáveis. O alerta deste escriba e de outros especialistas não adiantou. Quando os homicídios voltaram a crescer, o discurso mudou: a culpa era do governo do estado. A questão: o modelo de policiamento fixo das BIC’s não afeta a criminalidade homicida e nem nunca o fez. Mas, tudo precisava virar propaganda e marketing da gestão.

O resultado não foi outro: índice de popularidade em queda e uma rejeição política que este escriba (juntamente com outros) chamou de “micarlização”. A cada ação prometida e não realizada ou, simplesmente, não realizada a contento, a população foi se deparando com uma absurda falta de confiança quanto à gestão e seu líder. Atingindo quase 90% da população mossoroense, a rejeição tornou-se a tônica da figura que, contra toda a razão possível, lançou-se candidato à reeleição.

Creditar a sua desistência à áudios de sua esposa ou de “oposição emperdenida” é mais um engodo de Silveira na seara da venda de ventos. Silveira desiste porque sabe, pelas pesquisas internas, que não tem a mínima chance de vencer. O orgulho (maior pecado de um político), assim como uma assessoria de quinta categoria (que parece só enaltecer sua empáfia) e bajuladora ao extremo, fez com que ele, ao contrário de Micarla de Souza em 2012, ousasse a reeleição.

O sonho de um projeto “alternativo” à hegemonia política dos Rosados se esfumaçou na incompetência política. Pode até ter havido boa fé, mas só isso não garante sustentabilidade no poder. Erros crassos e amadorismo intenso foram a marca do Silveirismo em sua meteórica passagem pelo País de Mossoró.

Interessante mesmo, para concluir, é a ideia de que Silveira não pertenceria às “oligarquias” locais. Outro engodo. Não só pertence, como toda a sua carreira e vida familiar está ligada à elas. Seu staff não apenas possui alguns Rosados, como também parte de seus comissionados estão ligados aos Rosados. O mesmo parece hoje ocorrer com o outro candidato mais forte neste pleito. Seu palanque não nega.

O Silveirismo morreu antes mesmo de nascer. Mas, não se enganem, o aborto não foi espontâneo. Foi fruto de uma gestão política imatura e atrasada. O mesmo modelo que, fatalmente, pode solapar o futuro(a) gestor. Sem apoio de quadros técnicos competentes e sem planejamento, o Silveirismo pode tornar-se a regra e, não mais, a exceção.

Da maldição Micarlizante, ninguém mais está livre.