Terremoto

Falaram na TV em terremoto sei lá onde, na tal da escala Richter, e imediatamente me lembrei de Luiz Maria Alves, falecido ex-diretor dos Diários Associados do Brasil no Rio Grande do Norte. Estive com ele em dezembro 1986, acompanhando meu pai à sede do poderoso e temido Diário de Natal/O Poti, justamente na época em que a terra andou tremendo para as bandas de João Câmara.

O velho jornalista nos recebeu na companhia do grande Evaristo Nogueira, que deixara os microfones da Rádio Tapuyo de Mossoró, onde trabalhava desde o início de sua carreira no ano em que nasci, 1971, para narrar futebol e fazer comentários esportivos na mídia natalense. Vavá Maravilha, há anos em Fortaleza, foi também vereador, três vezes, e numa delas presidiu o nosso Legislativo.

Seu Alves, uma figura interessantíssima. Talvez fosse, naquela época, o homem mais poderoso do Estado, versão potiguar de Assis Chateaubriand, e mesmo assim fez questão de nos levar pessoalmente a todas as dependências do jornal. O detalhe é que apontava cada coisa que julgava importante mostrar com um revólver calibre 22, niquelado, que de vez em quando sacava do bolso da calça.

Na volta à sala da diretoria, servido licor, meu pai perguntou sobre os terremotos de João Câmara. Era madrugada quando o abalo sísmico de magnitude 5.1 danificou cerca de três mil casas nos arredores de seu epicentro, venceu a distância de quase oitenta quilômetros e se fez sentir em Natal. Eu assistia TV deitado na sala do apartamento que tínhamos no condomínio Vila Romana. Susto da porra.

Cometi a gafe de me intrometer no assunto: “Li no Correio Braziliense – que meu avô trazia quinzenalmente da Capital Federal – que no Japão os prédios são construídos sobre molas, para neutralizar o impacto dos terremotos”. Na hora, ninguém deu cabimento. À tarde, porém, toca o telefone. De lá, a pessoa identifica-se, “É do Diário de Natal”, e pede que eu espere enquanto transfere a ligação.

Atende Evaristo Nogueira, querendo me entrevistar. Luiz Maria Alves, segundo ele, impressionara-se com os “conhecimentos” do “menino de Mossoró” sobre “engenharia japonesa”. Gelei, o Diário era o “Diário”, e sempre fui reservado, além de muito tímido. Para piorar, sabia nada afora o que lera por acidente. Daí, recusei-me a dar a entrevista, mas carrego até hoje o convite no currículo.