Refugiada angolana estreia nos palcos em peça no Rio sobre vida dos refugiados
O relato é da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
De Angola, da República Democrática do Congo e da guerra para os palcos brasileiros. Esse é um resumo simples da trajetória de luta e perseverança de Ruth Mariana, refugiada que sempre sonhou em ser atriz e agora estrela o espetáculo “Kondima – Sobre Travessias”, no Rio de Janeiro.
Ruth e o espetáculo se misturam até no nome. “Kondima” é uma palavra do dialeto lingala que significa “acreditar” – justamente o verbo que sempre a moveu. A língua é falada em tribos de Angola e da República Democrática do Congo, onde ela nasceu e para onde se mudou quando criança, respectivamente. Fugiu do conflito, da violência bárbara contra as mulheres, e veio para o Brasil há três anos.
“Sempre amei o Brasil, meus filhos falam português pela minha origem angolana. E, por uma ironia da vida, estava pedindo visto para a Europa, mas consegui o brasileiro. Sou muito grata”, relembra.
No Rio de Janeiro, ficou sabendo do Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (PARES) da Cáritas num momento em que vivia uma situação difícil.
“Cheguei sofrida, não tinha nem roupas para os meus filhos. Tínhamos uma outra vida em Angola e aqui estava passando necessidades. Quando cheguei à Cáritas e vi o pessoal da África, fiquei muito feliz. Desde então, meu sorriso voltou.”
Protagonismo das pessoas refugiadas
Por meio da Cáritas, Ruth conseguiu realizar o desejo de atuar – a instituição inclusive é mencionada na peça. A equipe da companhia teatral Troupp Pas D’argent, que realiza o espetáculo, mergulhou no tema do refúgio durante um ano e meio, fazendo entrevistas e realizando filmagens em lugares tão distantes quanto Alemanha, França, Roraima (fronteira Brasil-Venezuela), São Paulo e Rio de Janeiro.
O objetivo era fundir realidade e ficção de forma que o público não conseguisse distinguir uma coisa da outra.
Desde o início, a intenção era incentivar o protagonismo de pessoas em situação de refúgio, segundo a diretora do espetáculo, Marcela Rodrigues. Buscaram, então, uma atriz refugiada com um perfil específico: mulher, negra, africana, com experiência ou não. Por uma indicação da equipe da Cáritas, chegaram até Ruth, que nunca havia atuado.
“Entramos em contato e na primeira reunião, no primeiro teste, nos apaixonamos pela Ruth”, conta a diretora.
A idealizadora do projeto, Natalíe Rodrigues, destaca ainda a dedicação da refugiada durante todo o processo. “Foi uma conexão instantânea. Ela trouxe tantas coisas importantes, de sensibilidade, e nos surpreendeu a cada encontro, a cada ensaio, com disponibilidade, vontade de se doar, de aprender e de ensinar”, elogia.
Fonte ONU-BR