Presos relatam a dor de passar festividades de final de ano longe da família

Na semana passada, 34 presos foram libertos provisoriamente do regime semiaberto no Complexo Penal Estadual Agrícola Mário Negócio (CPEAMN). Eles receberam o benefício do indulto de Natal, onde estarão com a família durante sete dias.

Porém, nem todos os detentos podem sair para comemorar o Natal com os familiares. Diante disso, presos que não puderam sair da prisão para as festividades de final de ano lamentam ter de ficar longe de filhos, esposas, namoradas e noivas em uma das datas mais importantes do calendário brasileiro.

“Só sabemos realmente como é triste uma prisão quando durante datas importantes somos privados de estarmos com os nossos familiares. Sou consciente do crime que pratiquei e da pena que tenho de pagar, porém nessas datas, principalmente de final de ano, o coração pesa ainda mais devido não poder compartilhar com meus familiares as festividades”, explicou o preso José Antônio Valentim Queiroga, condenado há 15 anos de reclusão por assalto.

Já a detenta Maria da Conceição Silva, não segura a emoção quando lembra de seus dois filhos pequenos que estão sendo criados por sua mãe. Ela é condenada há 10 anos e seis meses por tráfico de drogas e está detida em uma das celas da Penitenciária Feminina, que funciona nas dependências do Complexo Penal Estadual João Chaves, em Natal.

Ela relata que este é o segundo ano em que as festividades natalinas lhes são privadas por estar presa. “O que mais me dói é saber que não vou poder ver meus filhos nesse período tão significativo, que é o Natal. Queria muito que eles estivessem comigo,” relata a presa, com lágrimas nos olhos.

A história de vida de um paranaense, atualmente preso em uma unidade carcerária do Médio Oeste, não é das mais brilhantes, como ele mesmo narra. Com 45 anos de idade, o preso que aceitou ser identificado apenas como “Bil”, conta que a maioria dos anos de sua vida foi dentro de prisões. Assaltos, assassinato, sequestro, latrocínio, dentre outros delitos, fazem parte do currículo do detento, no entanto a falta da família é uma das poucas coisas que lhe emociona.

“Minha vida foi sempre essa. Desde adolescente convivo com a cadeia. Já fui preso inúmeras vezes e já fugi outras tantas vezes, no entanto ao se aproximar o período natalino me lembro da minha mãe e do meu velho e sofrido pai, que há tanto tempo sofrem com as minhas escolhas erradas e nesse período de final de ano queria poder estar com eles para abraçá-los e dizer, que apesar de todos os meus erros e defeitos, os amo”, disse “Bil”, emocionado.

Ainda de acordo com o detento paranaense, já são oito anos que não vê seus pais. “Na minha vida pregressa não construí família e, se tenho algum filho por onde passei, não sei, o que me resta de emoção nessa vida é lembrar dos meus pais, que há oito anos não os vejo e, talvez, não os verei mais”, concluiu.

Benefícios permitem que detentos com bom comportamento passem as festividades de final de ano com suas famílias

Muita gente confunde o indulto de Natal com a saída temporária, que também é um benefício concedido a partir do bom comportamento do preso. Tendo o detento recebido o benefício da saída temporária, ele deve retornar à prisão em um determinado período estipulado. O indulto de Natal, diferentemente, garante ao preso a liberdade total antecipada.

“O indulto é um decreto da Presidência da República que concede anualmente o direito da extinção total ou parcial da pena a presos que tenham cumprido alguns requisitos exigidos por lei como não ter cometido nenhuma falta grave durante o ano”, explicou o vice-diretor do CPEAMN, José Fernandes.

Para José Fernandes, além do bom comportamento, o candidato ao benefício tem que ter pena superior a oito anos, e o réu primário tem que ter cumprido um quarto da sentença até o dia 25 de dezembro do ano de publicação do decreto vigente.

“Podem ser beneficiados os detentos dos regimes fechado, aberto e semiaberto que não cometeram crimes hediondos, como estupro, homicídio qualificado, tortura, além de tráfico de drogas e que não sejam reincidentes”, concluiu.

Os 34 detentos da Penitenciária Mário Negócio, que saíram na segunda-feira passada, devem retornar à unidade prisional amanhã.

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