Pio XII: Arquivos mostram que Vaticano falsificou documentos para salvar judeus

Cidade do Vaticano, 03 mar 2020 (Ecclesia) – A abertura dos arquivos relativos ao pontificado do Papa Pio XII (1939-1958) vai mostrar que o Vaticano falsificou documentos para ajudar judeus, durante a II Guerra Mundial.

“Levará tempo para reconstruir a atmosfera e o ambiente em que essas ações ocorreram. Mas pelo menos o estudioso poderá abrir outras séries, como a Itália 1352b, onde encontrará o arquivo «Acusações contra Monsenhor Ottaviani por ter concedido documentos falsos aos judeus e os ter hospitalizado em edifícios extraterritoriais»”, adianta Johan Ickx, responsável pelo Arquivo da Secção das Relações com os Estados, da Secretaria de Estado do Vaticano.

O especialista destaca que o pontificado de Pio XII aconteceu num “período decisivo na história do século XX, com esforços documentados para “tentar responder às súplicas de salvação dos perseguidos e das pessoas em perigo de vida”.

“Certamente também surgirá o ódio do nazismo à Igreja Católica e ao próprio Papa”, acrescenta Ickx, um dos arquivistas do Vaticano.

Para o especialista, a documentação mostra a “oposição e a falta de vontade de muitos Estados em abrir as suas fronteiras a tantas pessoas necessitadas”, durante a II Guerra Mundial.

documentos

Além das ações específicas da Santa Sé, ao dispor dos investigadores passar a estar documentos relacionados com relações diplomáticas, questões de concordatas, tratados, ratificações, trabalhos humanitários e de assistência, relatórios periódicos sobre situações político-religiosas, entre outros.

Aos arquivos tradicionais, com denominação da nação a que se referem os documentos neles contidos, soma-se a série de arquivos “Judeus”, 170 fascículos que contêm a história de cerca de 4000 pessoas, na sua maioria pedidos de ajuda de católicos de ascendência judaica, mas também judeus.

Johan Ickx destaca a história de Tullio Liebman, considerado como o fundador da “A Escola Processual de São Paulo”, que recebeu o apoio de colaboradores próximos de Pio XII para traçar uma rota de fuga para a América do Sul.

O arquivista sublinha que no pontificado em análise prevaleceu uma “linha de absoluta discrição da Santa Sé em relação ao seu trabalho”.

No pós-guerra, fica a saber-se, através dos arquivos abertos por decisão do Papa Francisco, que entre 1943 e 1954 um grupo de religiosas ouviu e transcreveu programas das principais estações de rádio, fornecendo notícias frescas em todo o mundo aos superiores da Secretária de Estado, o coração diplomático do Vaticano.

“Com mais de um milhão de documentos já digitalizados e quase tantos a caminho, a abertura à consulta do pontificado de Pio XII fornecerá, sem dúvida, algumas informações de importância crucial, em quantidade e qualidade, para o mundo da pesquisa histórica-científica, sejam notícias inéditas ou confirmação do que já pode ser deduzido de outras fontes”, conclui Johan Ickx.

Agente Ecclesia