Pintando o sete
“A vida tem a cor que você pinta” (Autor desconhecido).
Dizer que já ouvi umas mil vezes essa frase acima citada, acho que é pouco. Mas, em todas às vezes que a ouvi, peguei-me refletindo sobre a minha vida, o meu mundo, enfim sobre os meus arco-íris…
Hoje pela manhã não foi diferente. E, ao mesmo tempo, foi. Isto é: se é que assim eu posso afirmar, porque, na verdade, a imagem que vislumbrei no céu é que me fez refletir sobre a famosa frase. Não precisei pintar a paisagem, apenas apreciá-la.
Olhando para o céu em busca das famosas nuvens: nimbostratus – nuvens escuras, carregada de água, prontas para desabar lá de cima, deparei-me com um céu lindo, azul sem igual, “nesgado” com a luz do sol que já despontava no horizonte se prenunciando mais forte do que nunca! Um verdadeiro espetáculo, cuja paleta de pintura alguma seria capaz de reproduzir aquele colorido, mesmo porque, uma das suas características, a de ser mutante, já se fazia presente! Não desgrudava os olhos, pois a cada instante era uma nova obra-prima.
Até esqueci que o motivo da minha busca no céu era outra.
Fiquei ali por um longo tempo, como que hipnotizada com tamanha beleza!
Por falar em beleza… Quando aqui cheguei para fincar raízes achava estranha a forma como as pessoas se alegravam ao ver o céu cinza escuro, pronto a desaguar. E mais ainda, quando diziam: – “O tempo está bonito para chover”!
Eu indignada perguntava:
_ Como assim, bonito? O tempo está feio! Bonito seria se estivesse azul da cor do anil e, no máximo, com algumas nuvenzinhas brancas.
Alguém por perto, timidamente, às vezes me dizia: É assim que nós sentimos por aqui.
Eu ainda não conseguia entender bem essas colocações… Não sabia como era esperar por longo tempo que as chuvas chegassem, não apenas para molhar o chão e criar pastos, mas acima de tudo, poder armazenar as suas águas em cisternas, garantindo assim, o consumo até o próximo período de inverno. Desconhecia também, a delícia dos banhos de chuva embaixo das biqueiras, ou até mesmo o espetáculo de ver o rio Mossoró transbordando e causando preocupações, enfim…
Mas o tempo, esse sujeitinho que gosta de dar um tempo para mostrar que só ele sabe das coisas, me fez aos poucos aprender o prazer de repetir de boca cheia, a frase acima citada. Interessante como agora eu sei apreciar o tom de cinza escuro do céu. Sei também como é gratificante ver as nuvens em movimentos rápidos, aproximando-se cada vez mais, abrindo suas comportas no solo trincado, fazendo aos poucos a vida surgir através do verde que brota dos galhos secos e retorcidos da caatinga!
Às vezes é preciso viver a situação para aprender verdadeiramente a lição!
Outra curiosidade é que sempre gostei do cheirinho de terra molhada quando caem os primeiros pingos de chuva, mas hoje, com certeza, ele tem um “quê” de especial, pois de tão esperado, ele causa uma alegria tamanha no meu ser, que nem sei como decifrá-la!
Adoro também observar as florzinhas do mato, cuja beleza se faz naturalmente, sem nenhum cuidado especial, e que só agracia os olhos e a alma daqueles que dedicam um pouco do seu tempo em apreciá-las.
A natureza sempre foi e será a minha melhor escola, quando o assunto é matizar a vida! Nela busco inspiração para pintar os meus momentos… E olha que já foram muitos!
Não nego as dificuldades encontradas muitas vezes na ânsia de mudar as cores tristes da vida para outras mais alegres, mas o bom da vida é isso, você tentar sempre se aproximar ao máximo da perfeição do nosso criador!
Enquanto isso vamos pintando o sete, e logicamente, aguardando por dias bonitos de chuva, pois nada é mais colorido e bonito, do que as nuvens cinzentas no céu da minha terra!
Vanda Jacinto
Pedagoga