PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CCCLXVI)

Clauder Arcanjo*

Pílulas para o Silêncio

(Parte CCCLXVI)

Clauder Arcanjo*

(Escultura Messalina, de Eugene Brunet)

Quando um casal de gatos se encontra, os ratos rogam que logo se façam amantes e que, satisfeitos com o leite do amor, os deixem comer todo o queijo da casa em paz.

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— Você escuta a voz do mar?

— Não, meu bem, apenas tenho ouvidos para os marulhos do seu coração.

Pouco depois, foram flagrados em fúrias de maré-cheia.

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Nem toda história infantil tem final feliz, nem todo filme de terror renuncia a um beijo de amor, nem toda prosa cai muito bem numa novela.

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Acabou com a relação antes que aquele convívio cercado por intrigas redundasse em uma tragédia familiar.

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Quando o mar é de ressaca, todos as praias perdem o brilho idílico.

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Ao batizar seu primeiro filho com o nome Tomás, Maria Perpétua antevia-o na condição de um novo Tomás de Aquino. Pobre mãe. O rebento nunca teve nada de santo. Ao registar o segundo herdeiro como Nicolau, o casal jamais poderia imaginar que ele seria uma criança tão maquiavélica. Na terceira gravidez, quando o marido decidiu nomear a filha como Messalina, a mãe cuidou logo de ligar as trompas.

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— Oremos.

Foi a única palavra emitida pelo novo pároco ao dar pela presença da linda jovem no primeiro banco da Matriz de Licânia.

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Em público, declarava-se como um simpatizante da esquerda. No refúgio do lar, não admitia uma sequer contestação ao seu “valoroso conservadorismo”.

*Clauder Arcanjo é escritor e editor, membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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