Pesquisa inédita revela discriminação com a população LGBT

Pela primeira vez na história acadêmica da Universidade Federal Rural do Semi-Árido a população LGBT tem a oportunidade de ser ouvida dentro do contexto universitário. O Centro de Referência em Direitos Humanos – CRDH divulgou hoje os resultados da pesquisa ‘Orgulho de ser quem somos nos levará além: condições e visibilidade da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros) na Ufersa’. A divulgação aconteceu nesta quarta-feira, 28, no Auditório da Pró-Reitoria de Pesquisa é Pós-Graduação, dentro da programação do III Seminário de Articulação em Direitos Humanos do Oeste Potiguar, que acontece nas dependências da Universidade.

A pesquisa, que ouviu por meio de questionário aberto a toda comunidade acadêmica 135 pessoas, apontou para a necessidade de implantação de ações voltadas para esse público. Participaram 110 estudantes, 16 professores, 07 técnicos e 02 servidores terceirizados, sendo 80% do Campus Mossoró; 9,6% de Angicos; 5,9% de Caraúbas e, 4,4% da Ufersa Pau dos Ferros.

“Como não há um indicativo de quantas pessoas LGBT existem na instituição, consideramos o número de entrevista abrangente haja vista o fato de que as pessoas LGBT ainda são uma minoria social e acadêmica”, apresentou o bolsista do CDRH, Ivan Vieira. No que se refere à orientação sexual 59,3% dos respondentes afirmaram ser homossexual, 28,1% bissexual, 5,9% heterossexual e, 6,7% pansexual.

Os dados apontam para adoção de políticas voltadas para o público LGBT/Foto: Passos Júnior

Para a coordenadora do CRDH, professora Gilmara Medeiros, a pesquisa foi importante para evidenciar a discriminação que existe dentro da universidade. “Primeiro para compreender o que a população LGBT sente nesse espaço – incluída, excluída, amedrontada, discriminada, enfim, se sofre de alguma forma e, num segundo momento, se procurou saber como se dá essa violência, essa discriminação, em que espaços e por quem”, afirmou.

Ainda segundo a professora Gilmara, a população LGBT na universidade “é uma pequena minoria, sendo tratada como minoria, no sentido de pouco poder político e de pouca representação no espaço universitário e também pelo fato de se sentir excluída do espaço universitário”. A pesquisa revela um ambiente de muita discriminação que, consequentemente, afeta o desenvolvimento e a aprendizagem dessa parcela da população.

RESULTADOS – O medo de sofrer algum tipo de preconceito ou discriminação foi apontado por 85,7% dos respondentes. Já o temor de sofrer algum tipo de violência, seja física ou psicológica, em segundo lugar, com 60%. Outros 37,1% responderam que preferem manter a sua sexualidade reservada e, 20% afirmaram não gostar de demonstrações de afeto e carinho em ambiente público.

A pesquisa apontou ainda que 58,5% dos respondentes já presenciaram algum tratamento desigual ou discriminatório para com a população LGBT dentro da Universidade, sendo 64,6% vindo dos estudantes; 63,3% por parte dos professores; 21,5% dos técnico-administrativos; 11,4% da guarda universitária e, 12,7% por parte dos servidores terceirizados.

Quanto ao local a maior incidência com 86,7% ocorrendo no Centro de Convenções; seguido pela sala de aula, com 76,5%; o Restaurante Universitário, com 38,8% e, os espaços de representações, com 24,5% das ocorrências. Quando perguntando quem partiu o segmento estudante aparece em primeiro lugar, com 67,44%; seguido por professores, com 52,2%; os técnicos, com 13%; os guardas universitários e os terceirizados aparecem com 8,7%, respectivamente.

A pesquisa constatou ainda que há dentro da universidade um tratamento diferenciado com relação à comunidade LGBT. A maior incidência, 87,9%, estando relacionada a comentários pejorativos, piadas e brincadeiras, o que caracteriza LGBTfobia. O tratamento grosseiro e autoritário foi apontado por 39,4% dos respondentes, seguido pelo assédio moral, com 28,3% e, o assédio sexual, com 13,1%.

Outro dado preocupante detectado na pesquisa é que 92,5% das pessoas que foram vítimas de atos discriminatórios não fizeram nenhum tipo de denúncia à Universidade.  Já os 7,5% que afirmaram ter levado o caso as instância da Ufersa informaram que nenhuma providência foi tomada com relação à denúncia. A justificativa dos respondentes para não denunciar os casos de discriminação quase à metade (44,9%) é por medo de sofrer algum tipo de represália/perseguição em função da denúncia. O desconhecimento das instâncias superiores universitárias aparece em segundo lugar nas justificativas com 36,7%. Outros 30,7% não consideraram a prática discriminatória grave o suficiente para gerar uma denúncia.

Num contexto mais amplo, a pesquisa apontou que muito mais que atitudes isoladas, as ações e comportamentos discriminatórios afetam o cotidiano e a convivência acadêmica. Para a professora Gilmara Medeiros, uma das coordenadoras do trabalho, a intenção é que a pesquisa subsidie mudanças dentro da instituição. “A pesquisa tem o intuito de ser um instrumento político. Esperamos que a gestão da universidade, diante desses dados, desenvolva políticas públicas com melhor inclusão das pessoas LGBT nesse espaço, bem como combata as práticas apontadas pela pesquisa”, afirmou. A professora também acredita que a pesquisa servirá como um importante instrumento para os grupos LGBT´s da instituição, o movimento estudantil, bem como outras organizações que possam cobrar ações nesse sentido.

Diante do revelado, o CRDH recomenda algumas estratégias de combate a ações LGBTfóbicas na Ufersa. São elas: adoção de uma política educacional permanente, para conscientização sobre os direitos das pessoas LGBT e o fomento de uma cultura de respeito junto a toda a comunidade universitária; ampliação dos diálogos sobre direitos humanos e diversidade nos diferentes espaço acadêmicos; o fortalecimento das instâncias competentes para o recebimento de reclamações e denuncias sobre condutas violadoras dos direitos das pessoas LGBT, a reestruturação da Comissão de Práticas Excludentes como apoio ao trabalho da Ouvidoria, bem como a criação de campanhas de combate à discriminação de gênero e diversidade sexual no ambiente universitário e, a regulamentação de sanções administrativas para os agentes de práticas discriminatórias e excludentes na instituição.

SERVIÇO – Qualquer  denúncia sobre atos discriminatório no âmbito da Universidade Federal Rural do Semi-Árido deve ser encaminhada a Ouvidoria que é o canal de comunicação entre a Universidade e a comunidade acadêmica – discentes, técnico-administrativos, docentes e a comunidade externa. Através da Ouvidoria, a Ufersa apura e intermedia solução para o impasse. A Ouvidoria tem por objetivo defender os interesses da comunidade, estabelecendo meios que assegurem conforto e segurança no atendimento às pessoas e desburocratizando trâmites. Ela se pauta pela dignidade, ética e respeito à pessoa humana.

O atendimento é feito, seguindo as normas que garantem a discrição e o sigilo quanto à identificação dos usuários. As denuncias podem ser feita através do e-mail: [email protected], pelo telefone: (84) 3317-8232 ou ainda se dirigindo pessoalmente na sala da Ouvidoria que fica localizada no Prédio da Reitoria. Outras informações sobre a Ouvidoria da Ufersa no site: Site: https://ouvidoria.ufersa.edu.br/

 

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