Pesquisa comprova viabilidade da produção da tilápia vermelha em água salobra

O resultado do trabalho representa alternativa viável para impulsionar o setor de piscicultura no Rio Grande do Norte

A tilápia, um dos peixes de água doce mais criados e apreciados pelos consumidores brasileiros, poderá muito em breve ser cultivada em água salgada. Uma pesquisa de mestrado desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Produção Animal, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – Ufersa – constatou a possibilidade dessa alternativa. Outro diferencial da pesquisa é a utilização da tilápia vermelha, um híbrido da tilápia cinza, ainda pouco produzida no Nordeste do Brasil.

A primeira fase da pesquisa Tolerância de tilápia vermelha a diferentes salinidades, desenvolvida pela mestranda Aline Gabriele Gomes da Silva, no setor de piscicultura do Campus Sede, em Mossoró, já comprovou a viabilidade da produção da tilápia vermelha em vários graus de Unidade de Salinidade Prática – PSU (Escala de Salinidade), com variação de 0 a 40 graus. A pesquisa tem como orientadores os professores Cristiano Albuquerque e Marcelo Augusto Bezerra.

“Observamos que com a salinidade da água até 40 PSU, a tilápia vermelha apresentou bom crescimento, chegando a pesar até um 450 gramas, num intervalo de 90 dias”, ratificou o professor do curso de Engenharia de Pesca e coorientador da pesquisa, Marcelo Augusto Bezerra. Para termos uma ideia do teor de sal, a água do mar, por exemplo, possui salinidade entre 35 e 40 PSU.

Engenheira de Pesca e mestranda Aline Gabriele Gomes da Silva. Foto: Assecom/Ufersa.

Diante dos bons resultados obtidos na fase experimental da pesquisa nos laboratórios de pesca da Universidade, o trabalho agora será desenvolvido nos ambientes de criação da tilápia onde o PSU pode variar de 0 a 60 graus. São salinas e pequenas propriedades com poços de água salobra. “Vamos colocar os alevinos em 07 gaiolas com variação de salinidade de 0, 10, 20, 30, 40, 50 e 60 PSU para avaliarmos o comportamento e o crescimento zootécnico dos peixes nas diferentes salinidades”, explicou Aline Silva. Essa fase da pesquisa terá duração de 120 dias.

Aline acrescentou que a pesquisa pretende provar a viabilidade da produção da tilápia vermelha em água com alto teor de sal. “Acreditamos que essa é uma alternativa bastante viável para a região do semiárido que possui uma grande quantidade de poços com alta salinidade e salinas que estão com tanques desativados”, pontuou. O grande diferencial é que não há a necessidade de utilização de dessalinizadores, uma vez que as tilápias se desenvolvem e se reproduzem na água salobra.

INCUBAÇÃO – Confiante nos resultados obtidos com a pesquisa de mestrado, Aline Silva pretende transformar a pesquisa científica num negócio lucrativo. A engenheira de pesca e quase mestra submeteu a ideia a um edital da Incubadora do Agronegócio de Mossoró – IAGRAM, se tornando há nove meses uma pré-incubada. “As chances são reais para que se venha concretizar uma empresa”, reconhece o gerente da IAGRAM, Ygo Biserra Pereira. Para o gerente, um projeto que nasce de uma pesquisa científica tem grande possibilidade de se tornar um projeto de sucesso, além do potencial que representa para mudar significativamente o setor de piscicultura no Rio Grande do Norte.

Junto à IAGRAM, Aline Silva já tem aprovado todo o projeto técnico e de gerenciamento da futura microempresa, faltando apenas o modelo de negócio que se encontra em fase de validação. “A Universidade não é só pesquisa, precisamos colocar todo o nosso conhecimento em prática, temos demandas nessa área e a nossa meta é concluir o projeto e abrir uma empresa”, concluiu.