Pesquisa apontou que pretos e pardos são maioria na universidade pública. Será mesmo?
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou em pesquisa recente que pretos e pardos são maioria no ensino superior público do Brasil. Segundo o levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), existem 50,3% de pretos e pardos nas universidades públicas do país. Brancos e outros compõem 49,7% do total.
O dado foi recebido com entusiasmo por alguns setores sociais. Contudo, a pesquisa possui problemas de metodologia que impedem um retrato mais fiel à realidade da população negra que ingressou na universidade pública. A pesquisadora e especialista em relações raciais, Renata Nascimento, participou do Programa Brasil de Fato RJ na última terça-feira (19) para tratar do tema. De acordo com a doutoranda, o levantamento do IBGE está focado no acesso à instituição de ensino e não aborda as condições de permanência.
“A pesquisa abarca a entrada dos sujeitos negros na universidade, ela não tá abarcando se estão permanecendo dentro da universidade. Eu não tenho os dados se essa população está concluindo o curso. Se essa população é de baixa renda, pega transporte, entra sem bolsa, o que torna continuar o curso mais difícil. Há uma evasão muito grande. Garantir o acesso é importante, mas a continuidade e a permanência é fundamental para fechar esse ciclo e para a gente entender o porquê de não ter negros nas instâncias de poder”, destacou.
De acordo com Nascimento, a pesquisa também deixa de responder uma pergunta crucial para compreender os caminhos que os negros estão trilhando nas universidades: quais os cursos que essa população está ingressado?
“Há cursos que tradicionalmente já abarcam essa população: Serviço Social, História e Geografia. A população negra sempre se voltou muito para esses cursos. Eu queria saber da presença da população negra em cursos como Medicina, Física, Engenharia Civil, porque são cursos que não são para a população negra, porque, o racismo brasileiro em sua estrutura acreditava que o negro servia para o trabalho braçal, ele não era o sujeito intelectual”, explicou.
A pesquisadora está desenvolvendo a sua tese em cima da dificuldade de acesso da população negra aos programas de pós-graduação e as raízes do racismo na educação. Para Nascimento, a transformação é pela educação, mas, segundo ela, ainda é necessário avanço nas políticas afirmativas para que a sociedade brasileira forneça equidade de oportunidades para o povo negro.
“O negro estar na universidade hoje é derrubar mais uma barreira do racismo brasileiro, é permitir que ele avance nas estruturas de poder. A educação é a única chave para virar esse processo de discriminação racial”, afirmou.
Brasil de Fato