O potencial subaproveitado das frutas do Vale do Açu – Joacir Rufino

O Vale do Açu é uma microrregião conhecida em todo o país pelo dinamismo de sua fruticultura irrigada. No Rio Grande do Norte (RN), segundo dados do IBGE, a área é destaque na produção de banana, manga, melancia, mamão, entre outras variedades. Além disso, frutos nativos como o umbu e a cajá vicejam nos campos. Entretanto, prevalece no presente um subaproveitamento do potencial de nossas saborosas frutas, que são majoritariamente comercializadas “in natura” sem qualquer agregação de valor e/ou são pouco valorizadas como meio para garantir a segurança alimentar e nutricional da população local. Tal situação é incompreensível do ponto de vista econômico e chega até a causar surpresa entre observadores externos.

No começo do mês passado (março/2018), por exemplo, tive a oportunidade de recepcionar uma pequena comitiva de pesquisadores de diferentes universidades do Brasil e do exterior, entre eles o professor Walter Belik da UNICAMP, os quais estão estudando as relações de trabalho no setor agrícola exportador em várias partes do mundo. Após o encerramento do nosso almoço, em um dos restaurantes da cidade de Assú, alguns dos referidos pesquisadores ficaram decepcionados com a sobremesa. Isso porque, depois de observarem a riqueza da agricultura irrigada regional, eles esperavam saborear algum doce feito a partir das frutas locais e só encontraram um punhado de sorvetes e picolés de marcas tradicionais no contexto nacional.

Na verdade, essa é uma situação que tem frustrado muita gente e não apenas os nossos visitantes ilustres. De fato, nos bares e restaurantes das cidades da região é raro encontrar no cardápio um doce típico preparado com as bananas produzidas em Ipanguaçu ou com as goiabas colhidas nos pomares localizados no Distrito Irrigado Baixo Açu (DIBA) e nas centenas de quintais produtivos familiares espalhados nas comunidades rurais da microrregião. Cabe registrar que o Vale do Açu não possui atualmente em seu território nenhuma fábrica de doce que processe e agregue valor às frutas da terra. Ao mesmo tempo, a pouco incentivo para o incremento de pequenas agroindústrias caseiras de doce ou de fabricação de polpas de frutas, que existem em localidades isoladas e poderiam ser expandidas para abastecer o mercado local e estadual.

Outra questão que incomodou uma parte da mencionada comitiva de pesquisadores foi a informação sobre o baixíssimo consumo de nossas frutas na alimentação escolar. Por incrível que pareça, a merenda das crianças na maioria das escolas do Vale do Açu não conta “de maneira regular” com frutas no cardápio. No dia-a-dia, elas não comem banana, manga, mamão, goiaba e melancia e nem bebem sucos feitos a partir da polpa de algumas dessas preciosidades citadas. Talvez haja exceção nos municípios onde o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA/Compra Direta) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) são bem operacionalizados e as compras institucionais conseguem abrir espaço para os agricultores familiares e assentados da reforma agrária escoarem sua colheita. Mas o fato é que não há uma estratégia deliberada das prefeituras ou do governo potiguar para inserir as frutas da microrregião na dieta dos estudantes, que continuam consumindo, em muitos casos, alimentos industrializados produzidos em outros estados do país.

O cenário brevemente apresentado indica, portanto, a necessidade de repensar ações e seguir novos caminhos. Naturalmente, os produtores locais têm sobrevivido vendendo sua produção para atravessadores e canais de comercialização variados, inclusive exportando. Mesmo assim, não resta dúvida de que há grandes oportunidades para a expansão do mercado local da fruticultura do Vale do Açu. Uma política bem planejada de apoio à agroindústria processadora (de micro, pequeno e médio porte), assim como a inserção permanente de nossas frutas nos cardápios de todas as escolas públicas da região, proporcionaria um poderoso incentivo à atividade. O resultado disso seria mais empregos e renda no meio rural e, o que é mais importante, a formação de uma geração de pessoas com menos problemas de saúde e com hábitos alimentares mais saudáveis do que o atual padrão baseado principalmente nos refrigerantes, nos sucos de caixinha e nos biscoitos cream-cracker.

Joacir Rufino de Aquino – Economista, professor e pesquisador da UERN.

 

 

Foto: DoDesign-s.