O papel do papel – Caio César Muniz

Sou da geração que esperava o jornal caído no muro, muitas vezes molhado pelo orvalho da manhã, outras vezes servido como um quebra-cabeças devido à traquinagem do cachorro. O certo é que o ritual era: acordar, abrir a porta e procurar o jornal.

Já era. Agora o ritual é: ser acordado por algum bip e ver quem está falando o quê, mil vezes “bom dia”, sem respeito ao horário de acordar de cada um e inutilidades. Mas, as notícias, são tantas, em tantas línguas, por diferentes fontes, que ou você elege os prediletos ou não sabe o que, verdadeiramente, é notícia.

Eu, de minha parte, tenho uma “biblioteca” de uns mil livros, todos virtuais. Me pergunte quantos eu li. Nenhum? Livros grandes então, nem pensar. Não me acostumo com o brilho da tela, com o passar de dedos no cursor, não dá. Ou eu imprimo, ou não adianta, não leio.

É certo que o impresso é coisa do passado, livros, jornais, revistas, ninguém mais os quer. Só um grupo muito seleto, no qual eu me insiro. Nada substitui o cheio da tinta no papel. O amarelar das páginas, o risco para destacar o texto, a dobrinha para marcar a página. Insubstituíveis.

Fui procurado por uma editora que queria disponibilizar um dos meus últimos trabalhos no formato de e-book. Rejeitei a proposta, não tenho interesse nesta distribuição em massa, quando nós, autores, perdemos totalmente o controle sobre nossas obras. Em breve, se der, faço uma nova edição em papel. Nada como o bom e velho papel.

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