O Céu e o Inferno – Francinaldo Rafael

Em 1º de agosto de 1865 foi lançada a quarta obra da Codificação Espírita: O Céu e o Inferno. Também conhecida como a justiça divina segundo o espiritismo, é um exame comparativo das diversas doutrinas, sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, as penalidades e recompensas futuras, sobre os anjos e demônios, etc. Traz numerosos exemplos acerca da situação real da alma durante e após a morte.

Allan Kardec, o Codificador, apresenta a verdadeira face do desejado Céu, do temido Inferno, como também do chamado Purgatório. Põe fim às penas eternas, demonstrando que tudo no universo evolui, conforme narra José Herculano Pires (tradutor) na introdução do livro. Diz ele: “Lendo-se este livro com atenção vê-se que a sua estrutura corresponde a um verdadeiro processo de julgamento. Na primeira parte temos a exposição dos fatos que o motivaram e a apreciação judiciosa, sempre serena, dos seus vários aspectos, com a devida acentuação dos casos de infração da lei. Na segunda parte o depoimento das testemunhas. Cada uma delas caracteriza-se por sua posição no contexto processual. E diante dos confrontos necessários o juiz pronuncia a sua sentença definitiva, ao mesmo tempo enérgica e tocada de misericórdia. Estamos ante um tribunal divino”.

Dois capítulos de O Céu e o Inferno foram antecipadamente publicados na Revista Espírita em 1865. Um, na edição  de janeiro, intitulado “Da apreensão da morte, vigorosa peça de acusação”, e o outro em março com o título “Onde é o Céu”. Pareciam simples artigos, mas esse último trazia uma nota final anunciando que ambos fariam parte de uma “nova obra que o Sr. Allan Kardec publicará proximamente”. No mês de setembro já estava à venda.

A leitura e o estudo atento da obra são importantes tanto para espíritas como para não espíritas, por permitir a compreensão do sentido da vida humana na Terra. Seguindo na introdução, Herculano Pires discorre: “Kardec nos dá nas suas páginas o balanço da evolução moral e espiritual da humanidade terrena até os nossos dias. Mas ao mesmo tempo estabelece as coordenadas da evolução futura. As penas e recompensas de após a morte saem do plano obscuro das superstições e do misticismo dogmático para a luz viva da análise racional e da pesquisa científica. É evidente que essa pesquisa não pode seguir o método das ciências de mensuração, pois o seu objetivo não é material, mas segue rigorosamente as exigências do espírito científico moderno e contemporâneo. O grave problema da continuidade da vida após a morte despe-se dos aparatos mitológicos para mostrar-se com a nudez da verdade à luz da razão esclarecida”.