NOSSOS POETAS – Sávio Tavares

O poeta SÁVIO TAVARES nasceu aos 22 de abril de 1961 em São Rafael/RN e nos primeiros anos da década de 60 veio a residir na “cidade dos poetas”, Assú, onde fez o seu ensino primário e ginasial no Instituto Padre Ibiapina.

Teve seus primeiros contatos com o mundo da literatura, através de um ex-cunhado, que lhe presenteou com vários livros e, em sendo funcionário do Banco do Brasil, facilitou o seu acesso à biblioteca da AABB/Assú, onde, segundo ele, “devorou”, dentre outras coisa, o “Tesouro da Juventude”, “O mundo Pitoresco”, além das obras de Dumas e Dumas Filho.

Adentrou no mundo das letras, nos idos de 70, compondo alguns versos e cartas de amor “terceirizadas”. Também teve uma breve incursão pelas artes plásticas em talhas em madeira e xilogravuras.

Em 1979 /1982, cursando ETFRN, teve participação no ateliê de artes da escola, e em algumas exposições coletivas e sempre manteve a escrita de versos, com a influência dos fesceninos de Assú, e algumas crônicas, essas, via de regra, românticas.

Voltando outra vez a Assú (1984/1995), desenvolveu alguns trabalhos em talha e quadros a óleo, tendo ligeira incursão na serigrafia, mas retornou aos fesceninos, esses mais apropriados aos botequins da vida, que aos círculos sociais.

Em Mossoró (1995/2001), agora servidor concursado da ETFRN, depois CEFET/RN, e CEFET/RN, retornou às lides literárias, produzindo glosas e crônicas sobre fatos engraçados ou pitorescos no ambiente de trabalho.

Retornou novamente a Assú, onde permanece até hoje, e ao “filho mais novo”, o Campus Ipanguaçu, onde voltou a exercitar a composição de fesceninos e algumas crônicas, tendo e ensaiado uma série de fábulas, apelidadas de “Fábulas Fajutas”, onde trazia sempre a advertência “para ler defecando”.

Segundo ele “assim o papel não seria de todo desperdiçado”. Narra peripécias do cotidiano do Campus, e dá (ou dava) um enfoque jocoso, irônico e até sarcástico a esses fatos.

“Em 2016, conheci uma figura maravilhosa, intelectual, sonetista do ‘pé a ponta’, como se dizia em tempos de antanho, que se tornou meu genro e sobretudo, amigo, e me incentivou a voltar a ‘estruir papel’, mergulhando outra vez no mundo dos poetas fesceninos, embora, não me ache TÃO merecedor assim, de assentar-me entre poetas! Entre boêmios errantes, quiçá…” diz o poeta sem vaidades.

QUEM JÁ VIVEU NO SERTÃO

 

l

Um canivete afiado

Pra tirar bicho-de-pé

Um “tô fraco” de guiné

Vaqueiro falando ao gado

Um tejuaçu guisado

Moer o milho pro pão

Fazer paçoca em pilão

Beata em transe na prece

TEM COISAS QUE SÓ CONHECE

QUEM JÁ VIVEU NO SERTÃO.

 

ll

A tigela de quixaba

Posta de molho pra de tarde

Uma pimenta que arde

Chapéu de couro sem aba

A luta que não se acaba

Xaxar batata e feijão

Rezar pra Frei Damião

Quando o sol no ocaso, desce

TEM COISAS QUE SÓ CONHECE

QUEM JÁ VIVEU NO SERTÃO.

 

lll

Uma traíra escalada

Posta no sol pra secar

Depois, no espeto enfiar

E come-la bem assada

Um arguidá de coalhada

Torresmo farinha e feijão

Amassado com a mão

O paladar não esquece

TEM COISAS QUE SÓ CONHECE

QUEM JÁ VIVEU NO SERTÃO.

 

lV

Ir num “misto” para a feira

Guardar a faca na bodega

Depois ir dançar no brega

Cum’a quenga cachaceira

Desacuar burro em ladeira

Topar touro barbatão

Só com “vara de ferrão”

Fazer da caatinga uma messe

TEM COISAS QUE SÓ CONHECE

QUEM JÁ VIVEU NO SERTÃO.

 

V

Fazer no terreiro um lastro

Para secar o “ligume”

Quilaro de vaga-lume

Curar bicheira no rastro

Se guiar só pelos astros

Em noite de escuridão

Fazer farta refeição

Como que o mato fornece

TEM COISAS QUE SÓ CONHECE

QUEM JÁ VIVEU NO SERTÃO.

 

Mote – Fabio Gomes

Versos – Savio Tavares

Assu/RN, 16 de janeiro de 2021.

 

 

MOTE

ELE VENDEU A CARROÇA

NEGOCIO DO BURRO ENGANCHOU

 

GLOSA

A quem interessar possa

A rádio deu o aviso

Com lucro, sem prejuízo:

“ELE VENDEU A CARROÇA!”

Porém, ficou uma mossa

Na proposta que encontrou

Nem tudo negociou

O comprador foi marrento

Depois que já ‘stava dentro

NEGÓCIO DO BURRO ENGANCHOU.

 

 

NÃO CONHEÇO UM CACHACEIRO

QUE TENHA PEGO CORONA

Glosa

 

Já que aqui nesse puteiro

Tudo serve de pesquisa

Vou avisar à ANVISA

NÃO CONHEÇO UM CACHACEIRO

Nem daquele mais rasteiro

Cujo “habitat” é a zona

Que qualquer mal leva à lona

Que o covid não dê trégua

Não tem um em vinte légua

QUE TENHA PEGO CORONA

 

Glosa 2

Uns morrem de uma cirrose

Alguns de atropelamento

Outros só de fedorento

Ou por falta de glicose

Um tanto vai de overdose

Até em briga na zona

A morte já deu carona

A muito cabra fuleiro

NÃO CONHEÇO UM CACHACEIRO

QUE TENHA PEGO CORONA.

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