NEY LOPES: Uma vitória de Pirro?

Conforme previsto, o presidente Jair Bolsonaro ganhou as eleições no Congresso Nacional.

É o caso de lembrar o poema de Drummond: “e agora José?  Para onde”?

O rei Pirro venceu a batalha de Ásculo contra os romanos. Nas comemorações teria dito, que com mais uma vitória daquelas, estaria arruinado. Aí nasceu a expressão “vitória de Pirro”, que simboliza conquista por um preço alto demais.

Será que o presidente, ao mudar as suas promessas eleitorais e fazer “negociações” por ele condenadas no passado, terá a mesma reação do rei Pirro?

O que se percebe é que os deputados e senadores, nas vésperas da reeleição em 2022, preferiram não arriscar. Optaram pela proximidade ao poder político e econômico, como meio de pavimentação de suas trajetórias eleitorais.

Opor-se ao Planalto traria o risco inexorável do ostracismo. A dúvida, porém, é se a governabilidade estará garantida, ou, a “solidariedade” será apenas tentativa de sobrevivência em 2022.  Este o “nó górdio” a ser desatado por Bolsonaro.

Percebe-se, que as atuais dificuldades do governo, ao lidar com o Congresso, nasceram do estilo impetuoso do presidente.

O sistema de “freios e contrapesos” adotado na Constituição, assegura ao executivo a competência de legislar (MPs). De outro lado, o legislativo emite a palavra final sobre aprovação das propostas oficiais.

Nesta reta final do mandato, o presidente terá que agir com moderação, mesmo diante do risco de perder espaço junto a sua ala sectária.

A pandemia e a eleição municipal deixaram lições.

Na agenda nacional, inseriu-se prioridade à área social, o que se contrapõe a linha ortodoxa do atual “tzar” da economia. Sai o ódio e entra a solidariedade.

Há sinais, de que a “alternativa política” terá que passar por um amplo diálogo, no qual todos se sentem à mesa, a exemplo do que aconteceu em várias democracias do mundo.

Em 2022, Bolsonaro vira “vidraça” e estará inserido em cenário diferente de 2018. O discurso anti-Lula, ante corrupção e ante políticos, talvez não convença mais.

Além do “olho” voltado para a reeleição, o presidente terá que “olhar” questões urgentíssimas, que desafiam o exercício do seu próprio mandato. Leia-se o risco do “impeachment”, o clamor em favor do auxílio emergencial, o teto de gastos, escolha de um partido para viabilizar a sua reeleição e aprovação das reformas inadiáveis.

Como se não bastassem tantos desafios, o maior deles será “juntar azeite com água”, que é a característica do “grupo” formado para garantir a vitória no Congresso.

Bom lembrar, que na Câmara o deputado Arthur Lira já assumiu posições recentes de violento crítico do governo, como aliado de Rodrigo Maia.

No Senado, o “mineiro” Rodrigo Pacheco foi apoiado até pelo PT. O seu discurso é legalista e sobre questões nacionais, por ter sido conselheiro federal da OAB.

Além disso, tem o estilo mineiro, que consagra a regra do “nem sim, nem não”, antes pelo contrário.

A heterogeneidade da “coalizão” poderá transformar Bolsonaro em “refém” político. A maioria dos parlamentares recrutados segue a regra, de que na política “nada se dá, nem empresta. Vende-se”. Além do mais, não há vocações para segurar alça de caixão.

Em relação a 2022, a vitória do presidente esvazia o chamado “centrão”, que se esfacelou, ao submeter-se, direta ou indiretamente, ao Planalto. Bolsonaro ganha dividendos na sua pretensão de reeleger-se, por dois aspectos: dificulta a formação de um bloco adversário de centro-esquerda e mantém os seus alvos de “comunistas”, “petistas”, “esquerda” contra os opositores.

Hipótese desfavorável seria curto circuito no discurso de Lira, que se diz “cumpridor de compromissos”.

Quem conhece a Câmara, sabe que “compromisso” significará o governo “acertar” o que “quer” e os “parlamentares” dizerem o que “querem”.

Como “pressão”, para os “compromissos serem cumpridos” os “vitoriosos” poderão ameaçar com uma aliança de centro-direita contra Bolsonaro.

Isso acontecendo, o presidente terá que inspirar-se em Teseu, figura da mitologia grega, vencer a luta contra o “monstro” Minotauro, que ele chamava de “velha política” e conseguir sair do “labirinto de Creta” em que se meteu.

Realmente, tarefa dificílima!

Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal, professor da UFRN e advogado

 

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