NEY LOPES: “Alegria e Ilusões em Mais Um Carnaval!”

Estamos em plena semana pré-carnavalesca.

A história registra que é uma festa popular surgida na Antiguidade, com objetivo de celebrar os deuses pagãos e a natureza. Embora comemorada em várias partes do mundo, reconhecidamente se caracteriza como “festa brasileira”.

Teve razão Franco Zeffirelli quando, após assistir desfile na Sapucaí, exclamou para o mundo: “O Brasil sabe inventar a alegria”. E completou: “O Brasil é o último país feliz no mundo”.

Carlos Drummond de Andrade escreveu: “ O povo toma pileques de ilusão com carnaval e futebol. São essas as suas duas fontes de sonhos”. “País do futebol” e “país do carnaval” não se opõem. Antes, se completam. São manifestações espontâneas, mescla de cor e raça.

O povo se entrega à alegria contagiante. Esquece a tristeza no passar da “escola”, ou no grito de “gol”. Não há diferença de classes.

Paulo Barreto (jornalista e cronista) afirmava que o carnaval era “uma história de máscaras”! Quem não a tem na sua vida? O carnaval só é interessante porque nos dá essa sensação de angustioso imprevisto… francamente. Toda a gente tem a sua história de carnaval, deliciosa ou macabra, álgida ou cheia de luxúrias atrozes. Um carnaval sem aventuras, não é carnaval”.

Artur Azevedo – contista maranhense – pediu perdão aos seus leitores e confessou: “venho contar-lhes uma história triste, num dia em que todos estão predispostos ao riso, mas… que querem? Tenho uma natureza especial: o carnaval entristece-me e o ‘Abre alas, que quero passar’ soa aos meus ouvidos como um canto de agonia e de morte”.

Com formas e percepções diferentes, o carnaval vem de longe.

Não se tem segurança onde surgiu. Se nos cultos agrários que suplicavam boas colheitas no período neolítico, no Egito antigo, ou no continente europeu na Idade Média.

Os maiores indícios são de que a festa tenha nascido na “Saturnália” romana, em que os nobres se misturavam aos escravos e, juntos, dançavam nas ruas com música, comida e bebida.

O rei da “saturnália” era um escravo, a quem se garantia o direito de dar ordens sobre tudo que desejasse.

A Igreja ameaçou acabar as “saturnálias”. Teve o cuidado de não enfrentar os seus fiéis. No ano 325 ficou decidido que os 40 dias antes da Páscoa seriam guardados para orações e jejuns.

Em 590 d.C., a Igreja reconheceu a festa, programando-a em seu calendário. O domingo de carnaval passou a ser o 7º domingo, que antecede ao domingo de Páscoa

O vínculo entre Portugal e Brasil se faz sentir também na origem do carnaval em nossa terra.

Em Portugal, o carnaval já era conhecido como “entrudo” e comemorado nos séculos 15 e 16. Com o deslocamento de portugueses para o Brasil, a tradição do entrudo chegou entre nós.

O carnaval atual é caracterizado pelos desfiles e fantasias, produto da sociedade vitoriana do século XIX. Paris e Veneza exportaram a festa para o mundo.

Os costumes padronizaram que o carnaval seja regido pelo ano lunar, com origens na antiguidade e recuperadas pelo cristianismo. Começava no dia de reis (Epifania) e acabava na quarta-feira de cinzas, às vésperas da Quaresma.

Durante o período de festas havia uma grande concentração popular e cada cidade brincava a seu modo. O entrudo desapareceu no início do século XX. Foi substituído pelos blocos carnavalescos, “tribos de índios” e os famosos “corsos” do Brasil.

As pessoas se fantasiavam, decoravam os seus carros e, em grupos desfilavam pelas ruas das cidades. Daí surgiram os carros alegóricos, característicos das escolas de sambas atuais.

Aponta-se como a primeira escola de samba oficial no Brasil a “Deixa Falar”, que originou a atual Escola de Samba Estácio de Sá, criada pelo sambista Ismael Silva (1928).

A melhor definição popular para o carnaval brasileiro encontrei há anos num verso de cordel (autor anônimo), que dizia:

“Hoje coloco a máscara de fogo; não há sopro que me apague; hoje vocês são a floresta; e hoje vou correr entre vós; hoje coloco a máscara de fogo; não há quem me pare; hoje corro até à árvore da vida; e vou abraçá-la como nunca dantes”.

Com tantas tensões e crises globais, o país se prepara para nova imersão nas alegrias e ilusões do carnaval brasileiro.

Só resta pedir que Deus nos proteja do coronavirus!

Saravá!

 

Ney Lopes
Ney Lopes de Souza: Advogado militante; Professor titular de “Direito Constitucional” da Universidade Federal do RN (UFRN); Jornalista, Procurador federal, Deputado federal, durante seis legislaturas, entre outros títulos