Ney Lopes: ” CRIANÇAS DESPROTEGIDAS”

Ney Lopes

Deixo de expressar uma opinião médica, por não ser especialista.

Porém, acompanho as informações sobre a vacinação infantil contra Covid e não entendo as razões do presidente e o seu ministro da Saúde insistirem nas posições inflexíveis de resistência a essa imunização.

O mais incrível é que há quem “bata palmas” e apoie tamanha obscuridade.

O presidente poderia até expor o seu ponto de vista contrário, ou de dúvidas na eficácia.

Todavia, sem a forma contundente em desmentir a ciência e “politizar a” a questão, apenas para se opor às orientações de alguns governantes (prefeitos e governadores) seus opositores.

Tudo aparenta desejo mórbido por atrito político desnecessário, considerando que os Estados Unidos e vários países da Europa – como Alemanha e Portugal – já começaram a vacinar crianças, a partir de 5 anos contra a covid-19.

No Brasil, a Anvisa, órgão credenciado para essa providencia, autorizou em 16 de dezembro a aplicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos.

Entretanto, o próprio Ministério da Saúde, para alegrar o presidente, coloca em dúvida a eficácia da imunização em crianças.

Afirma, por exemplo, que as vacinas são de caráter “experimental”.

Argumento despropositado, por desautorizar o entendimento de instituições internacionais sérias, como a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA), a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) e a correspondente Anvisa.

É lamentável a ciência deixar de prevalecer num país com mais de 600 mil mortes da doença — entre as quais 300 mil crianças..

Absurdamente, para fugir a responsabilidade, o ministro da saúde inventou uma tal consulta pública, sem nenhum rigor cientifico.

A consulta indaga se “Você concorda com a vacinação em crianças de 5 a 11 anos de forma não compulsória”?

Ora, essa pergunta é para ser respondida por corpo técnico, especialistas, e não leigos.

Não é igual a indagar a preferência por um time de futebol, ou uma música preferida.

Sabe-se que a maioria esmagadora da classe médica e autoridades sanitárias recomenda a vacinação infantil contra a covid.

No passado, o cientista Albert Sabin, casado com uma brasileira e que descobriu a vacina contra a poliomielite (paralisia infantil,) passou por vexame, durante a ditadura militar no país, quando residia no RJ.

Ele insistiu que as estatísticas fornecidas pelo governo nos anos 1970 à OMS estavam erradas e viu todas as portas em Brasília fechadas.

E passou a ser alvo de uma campanha difamatória.

Acusaram-no de estar obsoleto e desacreditado no meio científico e, ainda, autoridades chegaram a apontar que ele, “um judeu americano”, havia sido mandado para o Brasil por “grupos sionistas”.

Sabin decidiu voltar aos Estados Unidos, onde morreu, com o respeito do mundo.

A ciência demonstra que a estratégia de vacinação é a única capaz de erradicar o vírus causador da atual pandemia e suas variantes.

Protelar, ou fazer “jogo de palavras” para adiar medidas urgentes, conspira contra o interesse nacional.

O mais grave: pode matar muitas crianças desprotegidas.

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