Ney Lopes: A Groênlandia que Conheci

O Presidente Donald Trump manifestou recentemente desejo de comprar a Groenlândia, território autônomo da Dinamarca. Em 1946, o presidente americano Harry Truman ofereceu US$ 100 milhões em ouro pela Groenlândia, mas a oferta foi rejeitada.

A maior ilha do mundo, com dois milhões de quilômetros quadrados (equivalente ao México), é chamada “Terra Verde”, embora 85% da superfície esteja coberta de gelo. A capital Nuuk, encravada em um sistema de fiordes, aparência provinciana, é a menor capital do mundo, com cerca de 16 mil pessoas (quase todo mundo se conhece).

No inverno, a temperatura chega a 30° abaixo de zero. O país tem 60 mil habitantes, em sua maioria inuits (esquimós), originários da Ásia Central.

Sempre tive sonho de conhecer a Groenlândia, ilha descoberta no século 10 pelos “vikings” da Islândia. Realizei esse sonho, no dia 7 de setembro de 2011, quando desembarquei, com Abigail, em “cruzeiro marítimo”, na cidade de Nuuk.

A primeira curiosidade foi o fuso-horário naqueles confins do mundo. Era apenas uma hora a mais do que Natal.

Viajo fazendo anotações. Preservo o “repórter” que sempre fui. Agora, acrescento pequena câmera de filmagem, com a qual produzo “Globo repórter tupiniquim”! Na Groenlândia, não foi diferente, o que facilita a memoria do texto. Frustrei-me, por não ter documentado lá a aurora boreal.

Algumas horas antes do desembarque, o navio faz “zigue zague” na imensidão do mar, para contornar pontas de “icebergs”, que lembram formas de figuras abstratas e seres humanos (pedaços de gelo que flutuam, sem direção definida em águas geladas). Parecem ilusão de ótica. Não há porto marítimo.

O navio ancora à distancia, com acesso através de barcos. Em terra, a primeira visão é do escritório postal do Papai Noel, onde o visitante envia cartões de Boas Festas para entrega em dezembro aos destinatários. A Groenlândia disputa com a Finlandia, o direito de “propriedade” do local de residencia de Papai Noel.

Nas ruas circulam trenós puxados por cães. Há sinalização de advertências. Nuuk se destaca pela arquitetura colorida. As cores têm um “porquê”: prédios comerciais vermelhos, hospitais amarelos, as delegacias pretas, a companhia telefônica verde e as empresas de pesca azuis.

Tinha a curiosidade de saber como viviam os groenlandeses, com casas em cima de rochas vulcânicas. Surpreendeu-me a cidade de primeiro mundo que visitei.

Nuuk dispõe de universidade, Internet, estradas asfaltadas, instituições culturais e de pesquisa, piscinas públicas aquecidas, prática de esportes, times de futebol, restaurantes cafés, supermercados e rede de assistência social à população. Tradicionalmente, as principais atividades econômicas da ilha sempre foram caça, pesca, fabricação de amuletos e artesanatos.

Atualmente, a produção de petróleo supera 60 bilhões de barris, quatro vezes maiores do que do pré-sal brasileiro. As reservas do “ouro negro” equivalem a 13% das previsões, a serem descobertas no mundo.

Na ilha são extraídas grandes quantidades de uranio (material radioativo) e de “terras raras” (os maiores depósitos do planeta), tais como, o neodímio, o praseodímio, o disprósio e o térbio, matérias-primas fundamentais para a produção de tecnologias de comunicação e energia, como turbinas eólicas, veículos elétricos e aparelhos celulares.

Sutilmente, os chineses avançam na Groenlândia e já obtiveram o monopólio de todos os segmentos das cadeias produtivas das “terras raras”, além de pretenderem fixar nova rota marítima, que encurtaria a distância entre o Pacífico e o Atlântico.

Aumenta a presença russa na região, tanto militar, quanto civil, com o objetivo de tornar-se, no Ártico, a primeira potência econômica e militar, através da abertura da passagem do Norte-Leste, que simplificaria a entrega de hidrocarbonetos no Sudeste Asiático e facilitaria aliança com a China para monopolizar a rota marítima.

Neste contexto, os Estados Unidos instalaram uma base aérea, a menos de 1.600 km do Polo Norte, que abriga “Esquadrão de Alerta Espacial”, responsável pela defesa antimísseis e espacial do país. Essa base rastreia mísseis balísticos intercontinentais e satélites.

Percebe-se facilmente, que a hegemonia do “poder mundial” passa pela Groenlândia.

A ilha está no meio do caminho entre os EUA e a Rússia. Como Trump não dorme de “touca”, abriu os olhos e repetiu a proposta Truman, o que levou a rainha da Dinamarca torcer o nariz. O desejo dele seria tornar a Groenlândia, o 51º estado americano.

Mas, parece estar difícil!

Artigo publicado no site http://blogdoneylopes.com.br e
Tribuna do Norte