Nada, ainda, a comemorar

Segunda nação do mundo, depois da africana Nigéria, com maior número de negros e negras, o Brasil completa oito anos de celebração oficial do Dia Nacional do Zumbi e da Consciência Negra. O evento, instituído  pela lei nº 12.519/2011, não é feriado e sequer reconhecido na maioria dos estados, capitais e cidades deste país marcado por um passado escravocrata com registros de  mais de quatro milhões de negros retirados à força do continente africano. A travessia, feita nos fúnebres navios tumbeiros, fez do oceano Atlântico, por 300 anos, ser o  palco de um cemitério recolhedor de mais de dois milhões de corpos negros.

Assim é preciso, a cada 20 de Novembro, data com origem no porto-alegrense Grupo Palmares, lembrar e relembrar que o 13 de maio de 1888 –  data da abolição inconclusa – teve o dia seguinte mais cruel da história social e política do país, e que resultou nas condições precárias e desiguais em que se encontra, hoje, a maioria do povo negro brasileiro.

Dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o país está longe de ser uma democracia racial, fortalecendo a cada dia um imenso quadro de desigualdades sociais. Os indicadores socieconômicos deste mesmo Instituto costumam apontar sérias desvantagens para da população preta e parda, a começar  pelo quesito renda: entre os 10% da população mais pobre do país, 76% são negros.

Em artigo “Violência e racismo:novas faces de uma afinidade reiterada” publicado na Revista Estudos Sociais (abril de 2018), os autores Jacqueline Sinhoretto e Danilo de Souza Morais  chamam atenção para o viés racial na configuração das mortes violentas no Brasil, diariamente apresentadas nos noticiários televisivos.

Segundo os autores, os maiores índices estão concentrados na população jovem, “na qual há maior crescimento de homicídios entre negros e a redução entre brancos, o que significa o aumento da desigualdade na vivência da violência entre os grupos raciais. O monitoramento de letalidade policial por cor/raça aponta, também, maior incidência sobre negros. A população encarcerada cresceu, impulsionada pelo encarceramento de negros”, acentuam.

O artigo também destaca “a vitimização diferencial dos jovens negros que passa a ser o principal e atual tema do movimento de juventude negra, que faz disso a construção da bandeira de luta contra os constantes assassinatos”. Uma vez que “um homem negro tem oito vezes mais chances de ser vítima de homicídio no Brasil  do que um homem branco”, apontam, igualmente, estudos realizados a partir de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

E cabe, também, destacar a difícil inclusão das mulheres negras no mercado de trabalho e o quanto o racismo institucional e as desigualdades raciais são fatores determinantes no acesso aos serviços preventivos e básicos de saúde.

 

Brasil de Fato