Mobilidade nas cidades vai exigir atenção de eleitos em outubro

A política de mobilidade urbana é uma preocupação que vem ganhando importância nos últimos anos por diversos motivos. Manter o desenvolvimento de grandes cidades com menos prejuízos ao meio ambiente é desafio mundo afora. No Brasil, os protestos de 2013, que levaram milhões de pessoas às ruas iniciaram, após o anúncio de aumento de tarifa de transporte público, considerado de baixa qualidade pelos usuários.

Segundo a pesquisa Mobilidade da População Urbana 2017, publicada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o brasileiro vê o transporte como o quarto maior problema das cidades, perdendo apenas para a segurança, a saúde e o desemprego.

O tema é foco dos debates de candidatos às eleições deste ano. Devido a essa relevância, a Agência Brasil preparou um especial para mostrar algumas das boas práticas desenvolvidas no país, e, por outro lado, os problemas a serem enfrentados. A primeira reportagem mostra um modelo desenvolvido há décadas em Curitiba, cidade referência no sistema de embarque rápido de passageiros.

Nos últimos anos, a proporção de pessoas que gasta mais de uma hora por dia para se deslocar de casa para o trabalho subiu de 8,9% em 2011, para 10,2% em 2015. A média de tempo de deslocamento também cresceu. Em 2001, os brasileiros gastavam 28,7 minutos. Esse número subiu para 30,3 minutos em 2015. Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Rafael Pereira, pesquisador do instituto, acredita que houve uma visão equivocada nos últimos anos de priorização da indústria automobilística, representada principalmente pela isenção de impostos ao setor. Ele afirma que, apesar dos esforços, essa política não teve o efeito econômico desejado, de ampliação de emprego nas montadoras.

“O incentivo ao transporte individual motorizado não é uma coisa recente dos últimos 10 anos. É uma política que está entranhada há tanto tempo no governo federal e em outros governos locais, que reflete essa visão distorcida de priorização do transporte individual, do carro como um progresso, a representação do sucesso individual das pessoas e o crescimento da economia fundamentado numa indústria automobilística”, analisa.

O especialista em mobilidade urbana elogia o sistema da capital paranaense, cujo modelo foi replicado internacionalmente, mas aponta problemas de segregação espacial, em que a oferta de empregos e o acesso ao transporte continua priorizando as regiões centrais. “O ponto curioso de Curitiba é que quando você olha a desigualdade entre as pessoas ricas e pobres, é uma das maiores desigualdades do Brasil [no deslocamento casa/trabalho]. Brasília e Curitiba são as duas cidades onde o tempo que a pessoa pobre gasta no trânsito é bem maior do que o da pessoa rica”, aponta.

 

Agência Brasil