Maioria de mulheres e baixa escolaridade marcam o perfil do eleitorado em 2018

As eleições deste ano contarão com um perfil de eleitores mais maduros: 10,67% têm entre 60 e 69 anos e 24% — a maioria do eleitorado — está na faixa etária de 45 a 59 anos. As mulheres nesta faixa de idade, que têm baixa escolaridade e moram na região Sudeste, representam a maior parte dos eleitores.

Gênero e renda são duas das variáveis que poderão melhor explicar o voto do eleitor, segundo indica o doutor em Ciência Política Leonardo Barreto. Nas eleições deste ano, as mulheres são 52,5% dos eleitores aptos a votar, correspondendo a 77,3 milhões de eleitoras. Homens são 47,5%, representando 69, 9 milhões de votantes.

Houve um aumento de 3,7% no eleitorado, comparado com 2014. São mais 147,3 milhões de eleitores cadastrados este ano. Outros 1,4 milhão de cidadãos, contudo, não poderão votar nem se candidatar, por estarem com os direitos políticos suspensos. Pela Constituição de 1988, a suspensão ocorre nos casos de incapacidade civil absoluta e condenação criminal ou por improbidade administrativa.

Já os eleitores jovens, de 16 e 17 anos, representam apenas 0,95% do eleitorado. Esse índice é ainda menor do que na eleição passada. Para este ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou uma redução de 14,53% no número de jovens eleitores, mais de238 mil a menos do que em 2014.

Por outro lado, o grupo de pessoas acima de 70 anos, que tem a opção de voto facultativo, aumentou 11,12% em relação a 2014. Leonardo Barreto destaca, contudo, que em geral os eleitores mais novos e mais velhos, por entrarem na faixa do voto facultativo, têm uma participação mais restrita no resultado das eleições.

O voto também é facultativo para os eleitores não alfabetizados. Para as eleições de 2018, declararam-se analfabetos mais de 6,5 milhões de pessoas, o correspondente a 4,46% doseleitores. A porcentagem é alta: nas pesquisas de intenção de voto, quatro candidatos à presidência da República — dentre os que estão acima de 0% —têm menor percentual.

A maior parte do eleitorado, porém, também possui baixa escolaridade: 25,84% possuem ensino fundamental incompleto – são 38,06 milhões de pessoas. Outros 33,6 milhões de eleitores afirmaram ter concluído, pelo menos, o ensino médio. Já os eleitores com ensino superior somam 13,5 milhões de cidadãos, segundo a base de dados do Cadastro Eleitoral.

Impacto eleitoral

Leonardo Barreto explica que é até possível identificar características de comportamento do eleitorado motivadas por categorias de classe, de idade ou de gênero, por exemplo. Entretanto, ele opina que essas tendências são mais uma reação ao que o mercado eleitoral apresenta do que propriamente uma característica inata a uma faixa de renda ou etária.

É no cruzamento de variáveis do eleitorado que um traço de opinião pode se reforçar, esclarece o cientista político. Ele exemplifica: um homem de renda alta pode preferir um candidato e uma mulher de baixa renda outro. Leonardo também cita a corrupção como um elemento importante para explicar a dinâmica de voto.

— Nesta eleição, pela dinâmica do debate e pelas características do voto, eu destacaria gênero, renda e fator regional como as principais variáveis que mais explicariam o voto do eleitorado — aponta.

Uma pesquisa do Datafolha do dia 20 de setembro indicou que 51% das mulheres ainda não sabem em quem votarão para presidente. O mapeamento socioeconômico demostrou que das eleitoras indecisas 45,3% moram no Sudeste e 54% ganham até dois salários mínimos por mês. Como analisou Leonardo Barreto, essa parcela do eleitorado, que representa 27% do total, pode ter papel decisivo nos resultados de um segundo turno.

Para Fernando Trindade, consultor do Senado especializado em Direito Eleitoral, o resultado das eleições pode ainda ser influenciado por fatores externos e ocorrências próximas aos dias de votação. O consultor analisa que, desde as eleições de 2014, o debate político nas redes sociais ganha cada vez mais importância e disputa a “narrativa política” dos acontecimentos com os meios tradicionais de comunicação.

— Em termos potenciais, essas mudanças [no eleitorado] podem ter influência na votação, principalmente, em casos de segundo turno, mas não se é possível prever em que medida — afirma.

Segundo Trindade, na ocasião de um segundo turno, questões como as diferenças salariais entre homens e mulheres, o papel da mãe solteira na sociedade e a causa LGBT serão “tópicos que podem crescer nos debates”, mas ainda é perigoso prever se terão um papel decisivo na formação da opinião do eleitor.

Nome social

Pela primeira vez, eleitores transexuais e travestis terão o nome social impresso no título de eleitor e no caderno de votação das eleições 2018. Fizeram essa escolha 6.280 pessoas. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os estados com maior números de registros do tipo ou atualizações. A possibilidade da autoidentificação foi aprovada pelo TSE em março. Fernando Trindade analisa que a medida é “um esforço positivo das instituições públicas para se atualizarem com a realidade social brasileira”.

O Brasil passou, segundo o consultor, por uma grande “onda” de avanço progressista nos últimos anos e, por esse motivo, as questões das minorias estão em pauta. Ele defende que essa agenda não pode retroceder, pois tem relação com direitos civis, de igualdade perante a lei. Ele reconhece ainda que o tema é “combustível para incendiar qualquer discussão” e tem ofuscado outras questões.

— Temos no Brasil, talvez, a eleição mais ideologizada da nossa história — declarou o cientista político.

Colégios eleitorais

São Paulo, o estado com a maior população do país, continua a ser o maior colégio eleitoral, com 33,04 milhões de eleitores, seguido de Minas Gerais (15,70 milhões) e Rio de Janeiro (12,40 milhões). O estado de Roraima permanece com o menor colégio eleitoral, mas teve um aumento de 11% no número de votantes válidos.

No exterior, a comunidade brasileira que poderá votar para presidente e vice registra 500,7 mil eleitores em 2018. Um aumento de 41,37% em relação às eleições anteriores. O crescimento é resultado de uma iniciativa conjunta entre a Justiça Eleitoral e o Ministério das Relações Exteriores para facilitar o cadastro de brasileiros residentes fora do Brasil.

Os países com mais eleitores aptos são Estados Unidos, Japão, Portugal, Reino Unido, Itália e Alemanha. Só em Miami e Boston (EUA) são quase 70 mil brasileiros votantes. De toda a comunidade internacional brasileira, apenas 4,11% teve sua biometria cadastrada para votação.

No Brasil, metade do eleitorado já votará com a biometria. O crescimento de digitais registradas, de uma eleição geral a outra, foi de 239,92%. A região Centro-Oeste é a com maior índice de adesão com 80,8%, seguida pelo Nordeste (79,57%) e Norte (76,78%). Em 2014, o quantitativo de eleitores com identificação digital em municípios com reconhecimento biométrico correspondia a apenas 15,18% do eleitorado.

O esforço de cadastramento faz parte do objetivo da Justiça Eleitoral para identificar 100% dos eleitores por meio da impressão digital até 2022. A intenção é prevenir fraudes e tornar as eleições brasileiras mais seguras, impedindo que um eleitor tente se passar por outro no momento do voto.

As eleições gerais ocorrem no domingo, 7 de outubro, das 8h às 17h, respeitando o horário local. A votação do 2° turno está prevista para o dia 28 de outubro.

Agência Senado