Lula, o grande perdedor

Enquanto o Senado discute a aceitação ou rejeição do relatório aprovado pela Comissão Especial do Impeachment, a presidente Dilma fica isolada no Palácio da Alvorada, o ex-presidente Lula acompanha o processo em um quarto de hotel e o vice-presidente Michel Temer vive a expectativa de se tornar presidente da República. A previsão é que, amanhã, ainda pela madrugada, essa primeira fase estará encerrada. Sabe-se, por antecipação, que a maioria votará pela abertura do processo de impeachment. Com isso, a presidente Dilma será afastada por até 18º dias e Temer será presidente, de início, no exercício do cargo para, pouco tempo depois colocar a faixa presidencial.

Foi tudo muito rápido. Os movimentos de rua começaram sem essa pretensão. Primeiro foi o combate à corrupção que foi se agigantando e entrando pela análise do governo, sobretudo na situação econômica, por conta do cinto do brasileiro estar ficando cada vez mais apertado. Os governistas não tiveram sensibilidade suficiente para a previsão do que estava prestes a acontecer. Alguns meses antes a presidente Dilma havia sido vaiada em público e as aparições nos programas de televisão eram acompanhados por panelaços insuportáveis. Mesmo assim, os líderes governistas continuaram imaginando que nada seria capaz de atingir a credibilidade do governo do PT.

Os ex-presidentes Getúlio Vargas, Jânio Quadros, João Goulart e Fernando Collor também erraram em análise semelhante. Julgavam ter o apoio do povo que não permitiria que saíssem da chefia do governo. Jânio até imaginou retornar nos braços dos brasileiros que implorariam seu retorno. Dilma pode estar pagando pelos erros de outros, pois não parece apaixonada pelo governo e, muito menos, pela política. Mas, ao que parece, gostou do tempo em que ficou à frente da Presidência. Mas, ela pode ser responsabilizada por um grande erro que dependeu somente dela que foi o afastamento do ex-presidente Lula. O estilo autoritário não permitiu dividir o poder com terceiros.

Lula é o grande derrotado na crise. Construiu com habilidade e paciência o projeto que o levou ao poder garantindo, pelo voto popular, um mínimo de 16 anos na presidência da República. Ganhou prestígio internacional, sendo admirado e respeitado por todos, amigos e adversários. Quem conversava com ele sai convencido do que escutou. É um encantador de serpentes, diziam todos que o ouviam. Hoje, Lula está em baixa. Não se pode afirmar que haverá tempo para recuperar o que foi perdido na crise atual. Como Lech Walesa, na Polônia, que nos anos 80 chegou a ser qualificado de “diabólico”, poderá cair no esquecimento, no mundo e também no Brasil. E sua imensa obra social será capitalizada pelos que virão depois. Talvez alguém ainda diga, “Lula foi o Cara”.