Lances finais do impeachment
Pode parecer trama policial, mas não é. O enredo começou com o mensalão até chegar à Lava-Jato. Quando iniciaram os movimentos de rua, no segundo governo Dilma Rousseff, a população não pensava em impeachment. As reivindicações eram dirigidas às áreas sociais e econômicas e ao combate à corrução. Dilma estava com a imagem arranhada por conta dos primeiros impactos do ajuste fiscal serem sentidos, com a aprovação do seu governo caindo para 23%. A CUT denunciava a mudança na regra de concessão dos benefícios previdenciários no caso do seguro desemprego, abono salarial e seguro-defeso no caso dos pescadores., atingindo milhões de brasileiros.
O movimento não era semelhante ao dos cara-pintadas no governo Fernando Collor. Os políticos não eram aceitos nos palanques até a constatação que, sem eles, a mobilização não atingiria a divulgação necessária. A operação Lava-Jato foi avançando, mais políticos, sobretudo do governo, sendo denunciados e a indignação popular aumentando. Foi então que surgiu a possibilidade de discussão sobre o impeachment, logo aproveitada pela oposição. O processo andou mais rápido do que imaginado. Os governistas, sem defesa plausível, passaram a denunciar “o golpe”, o desejo do terceiro turno, esquecendo que seus agentes foram correligionários e ajudaram Dilma a se eleger.
De início, Lula e Dilma foram poupados. Os primeiros ensaios para uma prisão do ex-presidente Lula foram dados pela promotoria em São Paulo e a Polícia Federal arrastando coercitivamente o ex-presidente para prestar depoimento sobre denúncias de corrução. O tempo foi passando, a discussão do impeachment se aprofundando e o governo insistindo, como faz até hoje, no discurso do “golpe”. Ninguém se preocupou em apresentar defesa consistente que desmentisse as acusações que eram do conhecimento geral. Ontem, o processo atingiu um clímax, com a própria Dilma Rousseff sendo denunciado e a justiça pedindo a prisão preventiva de Lula.
No caso do STF autorizar as investigações da presidente Dilma e de Lula ser preso preventivamente, o impeachment poderá será aprovado sem que haja reação popular. Esse desfecho é que se parece com um romance policial. Concluído esse capítulo, será a vez do afastamento do deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara e posterior cassação do seu mandato. Um pouco mais, não muito distante, a do senador Renan Calheiros da presidência do Senado. Mas, e como será um provável governo Temer na presidência? Pior do que está, é impossível. Por isso é preciso ter esperança em dias melhores.