Joacir Rufino & Emanoel Márcio – A UERN e sua contribuição para o desenvolvimento do RN

Em meados do ano passado a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) foi injustamente acusada pelo então presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN) como sendo a causa preponderante da crise fiscal do nosso estado. O argumento defendido desembocava em uma proposta descabida de privatização da instituição, que, felizmente, foi fortemente combatida e rechaçada pela sociedade norte-rio-grandense. Tal reação social em defesa da UERN é plenamente justificada, pois ela deve ser considerada não como a “causa” da crise, e, sim, como um instrumento valioso para ajudar o RN a enfrentar os desafios socioeconômicos que estão postos.

Com efeito, além de seu inquestionável papel positivo na formação superior de recursos humanos em várias áreas do conhecimento, a UERN tem um potencial adormecido no que diz respeito à pesquisa e à extensão universitárias ainda pouco ou quase nunca aproveitado pelos governos do RN, quer seja na capital do estado, quer seja nos municípios.

Para exemplificar, em muitos cursos da UERN, tais como Economia, Administração, Contabilidade, Ciências Sociais, Geografia, Turismo, Gestão Ambiental e Pedagogia, apenas para citar alguns, são produzidos anualmente dezenas de trabalhos acadêmicos de qualidade sobre a realidade socioeconômica potiguar, que o governo estadual poderia sistematizar e utilizar para orientar suas ações de planejamento, muitas vezes realizadas sem qualquer base acadêmica ou a partir da contração a “peso de ouro” de consultores técnicos de fora do estado, vindos de universidades do Centro-Sul do país, com pouco conhecimento da realidade local. Por sua vez, praticamente todas as políticas públicas implantadas no estado já foram ou são objeto de estudo de algum professor ou estudante da UERN, gerando conhecimentos valiosos que poderiam auxiliar no monitoramento e avaliação dessas ações, resultando no uso mais eficiente e eficaz do dinheiro público.

Esses são alguns de muitos exemplos que poderíamos destacar, sabendo que temos mais, como os das crises hídrica e ambiental gerada por anos consecutivos de seca e da crise recente do sistema prisional que tem aterrorizado a população, as quais poderiam ser melhor compreendidas e enfrentadas a partir da utilização dos resultados de estudos já existentes na UERN e/ou por meio do investimento em novas pesquisas científicas elaboradas com a finalidade de fornecer respostas viáveis para tentar equacionar tais problemas.

De fato, as oportunidades são significativas. A questão é que o conhecimento gerado dentro da UERN, que cresceu muito especialmente nos últimos 10 anos, infelizmente, tem sido pouco utilizado para além de seus muros. Ademais, as nossas ações de extensão ainda são tímidas diante do campo de possibilidades que existem. Mas essa realidade não é algo instransponível. Iniciativas como a formação de Núcleos Temáticos de Pesquisa e Extensão em parceria com o governo do estado e as prefeituras, em diferentes áreas do conhecimento, poderiam revolucionar a gestão pública potiguar e, por tabela, alavancar o desenvolvimento estadual.

Numa proposta dessa natureza, amparada nos princípios da cooperação institucional, os professores e estudantes albergados nos departamentos acadêmicos da UERN, nos cursos mencionados e também nas outras áreas, podem contribuir para a geração de diagnósticos socioeconômicos e territoriais dos problemas estaduais, avaliação das ações implementadas pelo poder público, capacitação de recursos humanos, entre outras iniciativas importantes. Para que uma inovação com esse perfil se efetive e gere bons frutos, no entanto, é preciso apoio e cooperação em uma estratégia ampla e permanente do governo do estado com a UERN e da UERN com o governo do estado.

Portanto, é possível um olhar completamente diferente em relação à UERN. Longe de ser um problema para a sociedade potiguar, ela pode ser a solução para muitos dos desafios que enfrentamos e nos ajudar a criar um futuro mais promissor. Isso exige, contudo, uma nova visão da Universidade, que, adicionalmente ao ensino de qualidade, fortaleça a pesquisa e a extensão como ferramentas para o desenvolvimento sustentável de seu espaço de atuação. Além disso, é indispensável que o governo estadual (de agora e do futuro) assuma o compromisso de usar os conhecimentos gerados na UERN como meios importantes para aprimorar a gestão pública e garantir a melhoria da qualidade vida da população norte-rio-grandense. Sem esse compromisso, que deve ser pautado em uma visão de longo prazo, um grande potencial da nossa instituição corre o sério risco de continuar sendo desperdiçado.

Joacir Rufino de Aquino & Emanoel Márcio Nunes – Economistas, professores e pesquisadores da UERN.