Grupo do prefeito lança jornal impresso com distribuição gratuita
Em tempo que o setor de comunicação de Mossoró enfrenta uma crise sem precedentes, onde o jornal Gazeta do Oeste (após 38 anos de circulação) fechou suas portas e diversos veículos sobrevivem com séries dificuldades financeiras, um grupo ligado ao prefeito Francisco José Junior (PSD) anuncia o lançamento de um jornal impresso. E gratuito. Trata-se do jornal “Mossoró Hoje”, que é o desdobramento do portal homônimo, criado para dar suporte ao projeto político de Silveira.
O jornal será lançado nesta sexta-feira, 15, e terá formato tabloide, com 12 páginas, algumas em policromia (coloridas). Conforme a sócia-diretora do jornal, Lia Castro, o impresso terá circulação semanal, com uma tiragem de três mil exemplares e distribuição gratuita. A equipe é composta por sete profissionais. Vale ressaltar que alguns dos profissionais que compõem a equipe também são lotados na Secretaria Municipal de Comunicação.
A chegada do novo jornal, que se intitula como o “futuro do jornalismo”, não está sendo tão bem vista, em especial pelos profissionais da área de comunicação que sentem na pele os efeitos da crise. Tão logo foi anunciado, o impresso Mossoró Hoje foi motivo de severas críticas nas redes sociais. “Como já era esperado, o site do prefeito vai virar jornal impresso. Agora fica claro o motivo de o prefeito sufocar os jornais tradicionais. Era pra abrir o dele”, declarou o jornalista Magnos Alves em sua página no Twitter.
O termo sufocar ao qual o jornalista faz referência trata-se do débito da Prefeitura Municipal de Mossoró com os jornais e outros veículos de comunicação do município. O atraso referente a vários meses agravou potencialmente a crise econômica enfrentada pelos veículos, em especial os jornais impressos. Em suas postagens, o jornalista questiona essa situação: “Enquanto dois jornais fecharam por dificuldades financeiras, outro nasce com tanta pujança que será gratuito. Qual o segredo em plena crise?”.
A jornalista Nathalia Rebouças também questiona o surgimento de um novo jornal no auge da crise do impresso. “Quando os outros jornais anunciaram o fechamento, li muitas teorias sobre o fim do jornal de papel. E agora, na chamada plena crise do modelo impresso, um portal divulga que vai passar a circular nesse formato. Pra mim, o mais interessante nisso tudo é perceber a dependência que a comunicação tem das verbas públicas. A gente sabe que o motivo principal do fechamento dos jornais de Mossoró não foi bem a crise do jornal de papel e sim a falta de verba municipal”, pondera a jornalista em seu perfil do Facebook.
A relação entre o novo impresso e a prefeitura, tão questionada na maioria das postagens sobre a chegada do jornal, se dá pelo fato de que o portal mantém uma linha editorial visivelmente governista, além de a sócia-diretora do jornal Mossoró Hoje, Lia Castro também ser proprietária da agência de comunicação que mais recebeu verba publicitária da Prefeitura no ano passado, um total de R$ 2.925.435,76.
Sobre as questões levantadas dessa relação, Lia Castro afirma que as insinuações não têm fundamento. “Antes de qualquer relação jurídica com prefeitura ou órgão público, sou pessoa jurídica e empresária do ramo de comunicação. Eu tinha o projeto do site e de posteriormente fazer a versão impressa. Eu ia lançar o projeto, independente de ter verba pública ou não”, frisa.
Quanto a ser proprietária da empresa de comunicação que mais recebeu verba da prefeitura, Lia Castro explica que embora no Portal da Transparência conste que a sua empresa recebeu mais de R$ 2,9 milhões, esse recurso não fica todo na agência. “O dinheiro é repassado à agência para que a agência possa quitar débitos com os fornecedores da Prefeitura, como times de futebol, gráficas, jornais e rádios”, esclarece.
Lia Castro destaca que a proposta de lançar o jornal impresso no mercado é fruto de uma visão empreendedora. “Sou jornalista e empresária do ramo da comunicação, com larga experiência, então é natural que eu tenha o desejo de crescer, de se desenvolver, de buscar novos desafios. O site e agora o impresso são produtos bons, no ramo que eu gosto e que eu acredito que terá uma boa aceitação”, finaliza.