Geraldo Maia – Os ursos no carnaval de Mossoró

Geraldo Maia do Nascimento – [email protected]

Todo ano é a mesma coisa. Pelo menos um mês antes do carnaval eles aparecem. São crianças e adultos fantasiados de ursos que saem às ruas da cidade, seguidos ao som de tambores e taróis, pedindo dinheiro a quem passar pela frente. Para uns, é apenas uma maneira disfarçada de mendigar; para outros, é o último vestígio dos áureos tempos dos carnavais de Mossoró.

Os ursos que se espalham pela cidade nesta época do anos, alimentando o medo das crianças e a curiosidade dos adultos (ou a irritação), encontram na figura folclórica da fera aprisionada um misto de alegria e fantasia, além da oportunidade de ganhar algum dinheiro, que no final é distribuído entre os participantes da troça.

Não se sabe quando nem quem primeiro se fantasiou de urso em Mossoró. Mas quem fez, com certeza se inspirou numa das brincadeiras mais estimadas do carnaval do Recife que é a La Ursa; o urso do carnaval cujas origens encontra-se nos ciganos da Europa que percorriam a cidade com seus animais presos numa corrente, que dançavam de porta em porta em troca de algumas moedas, ao som da ordem: “dança la ursa!”

Nesse tipo de brincadeira do carnaval pernambucano, a figura central é o urso, geralmente um homem vestindo um velho macacão coberto de estopa, veludo, pelúcia ou agave. As máscaras, que no início eram feitas de papel-machê pintadas de cores variadas, deram lugar ao plástico de diversos formatos.

Na brincadeira, o “urso” é preso por uma corda na cintura, segurado pelo domador, e dança para a alegria de todos ao som de toadas do próprio grupo ou sucessos das paradas carnavalescas, podendo variar para o baião, forró, xote e até polca.

A Orquestra do urso de carnaval é geralmente formada por sanfona, triângulo, bombo, reco-reco, ganzá, pandeiro, havendo outras mais elaboradas onde aparecem violões, cavaquinhos, clarinetes e até trombones. O conjunto traz por vezes, além do domador, do urso e da orquestra, o tesoureiro, porta-cartaz ou porta-estandarte, balizas e outros elementos que lá estão só para brincar o carnaval.

Os ursos do carnaval de Mossoró não chegam a ser tão organizados. A maioria dos grupos são formados por crianças, onde uma ou mais se disfarçam de ursos, com fantasias feitas geralmente com material reciclado, enquanto o restante segue com a batucada que é formada por bombo e taróis, ou simplesmente latas. Não cantam; apenas tocam seus instrumentos de percussão, enquanto o urso evolui, fazendo piruetas, correndo atras de crianças ou abordando os adultos em busca de dinheiro.

Alguns foliões se fantasiam de ursos já a bastante tempo. Pesquisando nos jornais locais, encontrei uma entrevista com um folião nas páginas deste centenário jornal “O Mossoroense”, onde o marceneiro Francisco Lauro dizia que se fantasiar de urso era um sonho de criança. “Eu quando pequeno acompanhava ursos para me divertir e sonhava um dia poder divertir crianças com a mesma intensidade que sentia”.

As vezes acontecem imprevistos, como o que relata Francisco Lauro: certa vez, o folião saiu fantasiado de urso com seus amigos, cercado de crianças, quando se dirigiu a um homem para pedir dinheiro. Em vez do dinheiro pedido, o homem puxou uma arma e a correria foi grande, afirma o marceneiro.

Sem saber o que fazer nem ter tempo para correr, e já esperando pelo pior, Francisco Lauro teve a ideia de cair e se fingir de morto, numa cena hilária. O resultado foi que o homem acabou esquecendo a raiva e caindo na gargalhada. “E tudo acabou numa boa”, explica o folião.

Divertindo, assustando ou irritando, seguem os “ursos” com suas maneiras exóticas de brincar o carnaval, mantendo viva uma tradição que é passada de geração a geração.

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