Geraldo Maia do Nascimento – Mossoró, 146 anos como Cidade

Em 9 de novembro de 1970 a Vila de Mossoró era elevada ao predicamento de cidade pela Lei Provincial nº 260, graças a um projeto do Deputado Provincial Vigário Antônio Joaquim Rodrigues, com assento pela sexta vez na Assembleia do Estado. É uma data pouco lembrada pelo povo e pelo poder público, sem desfiles, sem carros alegóricos, sem nenhuma comemoração; mas foi nessa data que a vila fora elevada ao predicamento de Cidade, título máximo do crescimento político da época.  E já se vão 146 anos.

No início, era apenas a Fazenda Santa Luzia, que pertencia, antes de 1739, ao Capitão Teodorico da Rocha. Por volta de 1770, a posse da Fazenda estava com o português Antônio de Souza Machado, e foi por essa época que a fixação demográfica foi iniciada pela criação de gado, oficina de carnes e extração do sal.  A 5 de agosto de 1772, a Provisão das Dignidades do Cabido de Olinda concede a Antônio de Souza Machado, Sargento-Mor da ribeira do Mossoró e sua mulher Rosa Fernandes, autorização para construir uma capela na Fazenda Santa Luzia, de sua propriedade, em cumprimento de promessa feita por sua intercessão. E a capela foi construída com os cruzados do Sargento-Mor e o auxílio dos devotos circunvizinhos, sendo o primeiro ato litúrgico celebrado em 25 de janeiro de 1773, quando foi batizada uma criança do sexo feminino, cerimônia essa oficiado pelo padre José dos Santos da Costa.  A capela permaneceu sobre as ordens da freguesia de Apodi por 70 anos.  Em 13 de julho de 1801 dona Rosa Fernandes, viúva do Sargento-Mor Antônio de Souza Machado, faz doação do patrimônio da Capela de Santa Luzia.

Muitos foram os movimentos para tornar a Capela de Santa Luzia em Matriz.  Mas finalmente, no dia 27 de outubro de 1842, através da Resolução 87, Mossoró passa a possuir a sua igreja Matriz, desvinculando-se da cidade de Apodi e assumindo a posição de freguesia. A autonomia religiosa era o primeiro passo para a autonomia política que daria ao povoado a condição de responder sobre as suas ações pela instalação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Umas sérias de acontecimentos vieram culminar com a sua autonomia política. Em 13 de fevereiro de 1852 foi lida na Assembleia Provincial uma representação dos habitantes da freguesia de Santa Luzia do Mossoró, pedindo que se elevasse a Povoação à categoria de Vila e município.  A lei n. 246 de 15 de março de 1852 elevou o povoado a categoria de vila, como o título de Vila de Santa Luzia de Mossoró. Em 9 de novembro de 1870, graças a um projeto do Vigário Antônio Joaquim Rodrigues, então Deputado Provincial, a Lei n. 620 do mesmo ano, conferiu-lhe as honras de cidade, com a denominação de Cidade de Mossoró.

Quanto ao topônimo Mossoró, existem algumas correntes divergentes: Para o historiador Luís da Câmara Cascudo, Mossoró provém dos cariris Monxorós ou Mossorós. Para Antônio Soares, Mossoró é corrutela de mô-çoroc, vocábulo indígena que significa fazer roturas, o que rasga, rompe ou abre fendas. “Aplica-se bem ao rio Mossoró, que rasgou ou rompeu a terra marginal em diversos pontos, formando camboas”.  Antônio Soares cita Miliet de Saint Adolfhe para quem o nome teria vindo de uns índios aldeados nas proximidades da foz do Apodi, que seriam os Macarus (ou Maçarus). Cita ainda Saldanhas Marinho, para quem “Mossoró” era corrutela de mororó, árvore muito flexível, resistente e vulgar no Norte. Quem tem razão não sabemos. Sabemos sim que Mossoró ficou sendo desde 9 de novembro de 1870.

Ao longo dos anos, Mossoró tem sido palco de grandes manifestações populares, como a Libertação dos Escravos em 30 de setembro de 1883, cinco anos antes da famosa “Lei Áurea”, o movimento que ficou conhecido como “A Revolta das Mulheres”, movimento popular contra a obrigatoriedade do alistamento militar e a defesa da cidade contra o ataque dos cangaceiros chefiados pelo lendário “Lampião” a 13 de junho de 1927. Não devemos esquecer também da grande conquista alcançada pela professora Celina Guimarães Viana, quando conseguiu na justiça o direito de ser a primeira mulher a exercer o direito do voto na América Latina. E todas essas manifestações foram registradas pelo jornal “O Mossoroense”, que desde 17 de outubro de 1872 vem servindo de testemunha ocular da história de Mossoró.