Família de Lucas, desaparecido há quatro dias, denuncia ameaças e exige respostas

Já se passam mais de 85 horas desde que Lucas Eduardo Martins dos Santos, de 14 anos, desapareceu. O adolescente negro, morador da Favela do Amor, na Vila Luzita, bairro pobre da cidade de Santo André (SP), sumiu durante as primeiras horas da madrugada de quarta-feira (13), após sair para comprar um refrigerante em um pequeno mercado localizado dentro da própria comunidade. A suspeita da família é de que a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP) esteja envolvida no sumiço do adolescente.

Na sexta-feira (15), por volta das 10h, um corpo com características similares às de Lucas, foi encontrado em um braço da Represa Billings no Parque Natural Municipal do Pedroso, em Santo André, a cerca de 15 km de distância do bairro onde vivia o adolescente. A família de Lucas, entretanto, não reconheceu o corpo como sendo do adolescente.

Segundo Ariel de Castro Alves, advogado e conselheiro do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), dois irmãos e o pai de Lucas estiveram no Instituto Médico Legal (IML) para fazer o reconhecimento junto ao médico legista responsável. “Um dos irmãos, o Igor, ficou com dúvidas, chegando a reconhecer inicialmente, mas depois voltou atrás. O irmão Vitor e o pai, Gilvan, não reconheceram o corpo”, afirmou.

No local, foi colhido material genético da família para a realização de um exame de DNA que concluirá se o corpo encontrado é de Lucas ou não. “Agora temos de aguardar em torno de 10 dias o resultado do exame do IML, mas esperamos que se dê prioridade para que o resultado saia o quanto antes, já no início da próxima semana, por ser um caso de grande repercussão e em razão também dessa angústia em que vive a família por não ter notícias do paradeiro de Lucas”, explica Alves.

Ameaças aos familiares

A suspeita do envolvimento da PMSP no desaparecimento do adolescente iniciou porque a madrasta de Lucas, de dentro de casa, o ouviu dizer “eu moro aqui” para alguém. Preocupada, saiu da casa e avistou uma viatura da PM deixando o local. Lucas não foi visto mais.

Pouco mais tarde, policiais em duas viaturas foram até a casa da família e questionaram sobre os moradores do local. Os policiais ainda teriam citado o nome de Lucas e de um outro irmão, que não era morador, mas que recentemente havia sofrido agressões de policiais militares. Em seguida, a família procurou por Lucas e, sem encontrá-lo, registraram um Boletim de Ocorrência na 6° Delegacia de Polícia de Santo André, que foi encaminhado ao Setor de Homicídios da cidade.

A tese do envolvimento da polícia ainda é corroborada por ameaças que os familiares vem sofrendo desde o desaparecimento de Lucas. Na quinta-feira (14), um jovem de 24 anos que prefere não se identificar, primo de Lucas, foi ameaçado por três policiais da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam), no jardim Teles de Menezes, em Santo André, quando ia buscar a filha na escola infantil.

Segundo o advogado, o jovem denunciou que um dos PMs o aterrorizou dizendo que ele seria enrolado num colchão e, em seguida, ateariam fogo nele. O jovem estava acompanhado de um amigo quando sofreu a ameaça.

Investigação

As apurações sobre o caso estão sendo feitas pela delegacia de homicídios de Santo André, pelo 41° Batalhão da PM e pela Corregedoria Geral da PM. Até o momento, dois policiais suspeitos de envolvimento no desaparecimento de Lucas foram afastados. Em uma das viaturas usadas pelos policiais, peritos encontraram uma mancha de sangue. O material genético está sendo analisado pelo Instituto de Criminalística.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de SP (SSP-SP) afirmou que as circunstâncias do desaparecimento do adolescente estão sendo apuradas por meio de um inquérito instaurado pelo Setor de Desaparecimentos, pertencente ao Setor de Homicídios de Santo André. Ainda segundo a nota, diligências estariam sendo feitas pela Polícia Militar para localizar Lucas.

“A Polícia Militar também instaurou um procedimento para apurar o caso e, preventivamente, afastou do serviço operacional dois agentes que foram apontados por testemunhas como supostos participantes da abordagem no Jardim Santa Catarina”, diz o documento.

Na opinião de Ariel de Castro Alves, se trata de “mais um caso gravíssimo” envolvendo policiais militares. “A PM de São Paulo e o Governo do Estado devem respostas à sociedade sobre o paradeiro do menino Lucas imediatamente. Novamente a imagem da Polícia militar está sendo manchada, gerando mais descrédito para a instituição. A PM deveria ser a maior interessada em solucionar rapidamente esse caso de possível desaparecimento forçado”, afirma.

Protestos

Na quinta-feira (14), familiares protagonizaram um protesto exigindo respostas sobre o desaparecimento de Lucas. A manifestação foi reprimida pela Polícia Militar, que utilizou bombas de efeito moral para acabar com o ato. No dia seguinte, cerca de 200 pessoas realizaram um novo ato de protesto contra o desaparecimento de Lucas e exigindo que o adolescente fosse encontrado.

Brasil de Fato