“Falta diálogo e sobra ansiedade no prefeito” afirma Francisco Carlos

Vereador, e ex-presidente da Câmara Municipal de Mossoró, Francisco Carlos (PV) avalia a gestão do prefeito Francisco José Jr, e aponta o que precisa ser feito para superar a crise que resultou no atraso do pagamento de salários dos servidores municipais após 19 anos. Em entrevista exclusiva, integrante da bancada de oposição, Francisco Carlos fala do destino que seu grupo deve seguir na eleição 2016, e da influência da educação para as mudanças que o município necessita.

O Mossoroense – A Prefeitura de Mossoró atrasa salário do funcionalismo pela primeira vez em 19 anos.  Que fatores levam a esse fato, na opinião do senhor?

Francisco Carlos – Um desastre administrativo como este, só pode ser explicado por uma convergência de fatores internos e externos. Um fator externo é crise econômica nacional, que influencia, mas não explica tudo. Os fatores internos é que explicam melhor a situação, são eles: falta planejamento, falta uma equipe experiente e coesa, falta diálogo e sobra ansiedade no prefeito, que costuma propor soluções mirabolantes. Essas condições levaram ao crescimento das despesas públicas municipais e ao desperdício de tempo e dinheiro.
OM – O que precisa ser feito para que a gestão municipal em Mossoró retorne aos trilhos?

FC – É obvio que a modificação do cenário econômico nacional influencia. Muito provavelmente, Mossoró e todo o país continuará sofrendo os efeitos da maior recessão das últimas décadas. Esta, já está sendo considerada uma década perdida.  Como pólo dinâmico de uma vasta região, tendo a sua disposição recursos naturais, excelente quadros técnicos nas universidades, na infraestrutura razoável (apesar de precária em alguns setores), a cidade tem todas as condições de superar o quadro atual. Para isso, é preciso recuperar a capacidade de investimento da prefeitura, articular o setor produtivo e cobrar tratamento igualitário por parte do governo do estado. Seria ótimo poder contar com o apoio federal. Mas este apoio, que costuma ser pequeno, para a importância da cidade, ficará ainda mais difícil. Também seria necessária uma conjunção das forças políticas da região. Acredito que, com isso, poderíamos reunir nossas forças vivas para identificar novas oportunidades de investimentos e ampliar nossa base econômica.

OM – O senhor concluiu, recentemente, curso de doutorado, com tese sobre gestão de saúde pública municipal. Que elementos a pesquisa fornece para aperfeiçoar a saúde em Mossoró?

FC – Nossa pesquisa alcançou 192 municípios médios brasileiros, sobre os quais foi montada uma base de dados abrangendo 32 variáveis, para um período de cinco anos. Utilizando diversos recursos estatísticos, obtivemos fortes indícios de que a melhoria das condições de saúde das populações recebe forte influência de indicadores externos aos serviços de saúde. Portanto, não basta investir na saúde pública, tem que melhorar os chamados determinantes sociais da saúde, que são fatores externos aos sistemas. É necessário melhorar a qualidade e o acesso aos serviços públicos de saúde, mas também é importante melhorar a renda, para que ela tenha acesso aos serviços privados de saúde. A saúde da população tende a ser melhor onde existe mais acesso à saúde suplementar.

OM – Recentemente, em discurso na Câmara, o senhor defendeu que o futuro de Mossoró passa pela oferta de serviços educacionais e de saúde. Poderia justificar?

FC – Há 15 anos que venho defendendo que o setor educacional é uma das melhores alternativas para a cidade, pois a cidade não pode continuar dependendo de uma base econômica estreita (sal, fruta e petróleo). É incorporar novos setores econômicos. Com a chegada de novas instituições de ensino superior e ampliação das que já existiam, Mossoró tende a se tornar um forte polo provedor de serviços educacionais, atraindo alunos, pesquisadores e consequentemente, renda. O mesmo pode acontecer com o setor de saúde com a prestação de serviços de maior complexidade, a exemplo da cardiologia e oncologia do Hospital Wilson Rosado e da radioterapia do Hospital da Solidariedade. Uma demanda superior à 1 milhão de consumidores deixarão de buscar serviços em Natal e Fortaleza, por exemplo, para encontra-los em Mossoró.

OM – Sobre a sucessão mossoroense em 2016, de que forma o grupo da ex-prefeita Fafá Rosado, do qual o senhor é um dos expoentes, pretende participar da eleição municipal do próximo ano?

FC – Penso que isso não está definido. Mas, acredito que a contribuição dos resultados da gestão de Fafá, permitem que ela participe do processo eleitoral. Foi uma gestão operosa, de grandes realizações, com projetos elaborados e concluídos dentro do seu governo e alguns outros que ficaram pensados para as gestões posteriores. Aconteceram avanços, constatados por dados oficiais em muitas áreas. Certamente, ela tem algum capital político. Isso é importante. Agora, a forma de participação depende de muitos fatores: das expectativas dos eleitores e da conjunção das forças políticas. Acho que Fafá deve estar à disposição do processo e do seu partido, com simplicidade e humildade, para contribuir para a retomada do desenvolvimento da cidade, da forma como a conjuntura permitir e em qualquer posição. Para isso, é necessário a maturidade que seu grupo sempre demonstrou, disposição para o diálogo e desejo de unir forças sem restrições, para que seja possível obter não apenas um projeto vitorioso em uma campanha eleitoral, mas também o reconhecimento e aceitação da população no presente e no futuro.

OM – Poderia fazer um balanço do seu mandato na Câmara, nos últimos três anos, e elencar expectativas para 2016?

FC – Um mandato não é feito apenas por uma pessoa. Sou grato porque disponho da simpatia e do apoio de muitas pessoas, que ajudam com ideias e muito trabalho. Juntos, conseguimos ocupar um espaço importante na câmara. Como vereador de primeiro mandato, já fui o primeiro secretário da casa, presidente da câmara e presidente da comissão de educação. Fui o vereador mais produtivo e o parlamentar do ano. Elaborei bons projetos, participais de muitas discussões, ao mesmo tempo em que me dedicava à minha formação acadêmica. Estou satisfeito, certo de que estou honrando com o mandato e retribuindo a confiança dos mossoroenses.