Em silêncio, Mossoró perdeu esta semana o talento do multi-artista Sizinho Júnior

Por Marcus Vinícius e Caio César Muniz.

Sob um silêncio total, com quase nenhuma linha na imprensa local, faleceu esta semana aos 42 anos, o ator, produtor, roteirista, músico, poeta, administrador do canal do “Na Rota do Cangaço”, no Youtube, pesquisador, aboiador e contador de história, Francisco de Assis Lopes Junior, mais conhecido como Sizinho Júnior.

Formado em história pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Sizinho participou do teatro escola para o Festuern, festival escolar de teatro e festival cultural.

Fez participação na Cia. Mandacaru de Teatro, fundou o grupo G15, mas foi no Grupo Arruaça que apareceu e se projetou no cenário cênico mossoroene. Atuou nos espetáculos: “O Voo do Cavalo do Cão”, “À Luz da Lua dos Punhais”, “Nos Campos de Luiz” e esteve presente em festivais nacionais e internacionais. Também atuou nos grandes espetáculos de Mossoró: o “Chuva de Bala no País de Mossoró”, “Auto da Liberdade” e “Oratório de Santa Luzia”.

De alma inquieta e instigado pela cultura popular, era apaixonado pelas histórias do cangaço, do cordel, do aboio, das histórias contadas pelos familiares lá no sítio Pitombeira, no município de Governador Dix-sept Rosado, às margens do rio, sob o clarão da lua.

E diante da inquietação, montou um estúdio em sua própria casa e passou a produzir vídeos, a juntar cordéis com a linguagem do audiovisual, até chegar a criação do seu, hoje com mais de 40.000 inscritos, que fez com que Sizinho fosse também conhecido e aplaudido pelas suas narrativas feitas com as histórias do cangaço.

“Eu sou um contador de história, gosto das narrativas orais, das memórias do povo, das lembranças. Sou artista e me aproprio da linguagem da arte para fazer a literatura do cangaço.” Dizia.

Há dois meses, Sozinho Júnior descobriu que estava com um tumor no cérebro. As dores de cabeça e as tonturas levaram-no ao médico. Desde que foi diagnosticado, esperava a morosidade do plano de saúde em liberar a cirurgia. O tempo da espera causava ansiedade.

Ainda assim, se mostrava otimista de que tudo daria certo, tudo seria resolvido e ele voltaria a desenvolver e realizar todos os projetos que estavam esperando para serem realizados. Falava com afeto dos filhos e de como ainda precisava trabalhar para garantir o feijão dos dois. Ela casado com a pedagoga Luzia.

A doença não esperou a boa vontade e a burocracia do plano de saúde, agravou-se e o jovem artista passou a ter dificuldade nos movimentos e no último dia 10, depois de dores e uma parada respiratória, teve de ser intubado, encaminhado para Fortaleza e dias depois teve a sua morte encefálica decretada.

Não teve tempo de realizar a cirurgia. Montou no cavalo do tempo e foi para o universo fazer seu aboio. O velório aconteceu no hall do teatro municipal Dix-huit Rosado. Foi velado por familiares e amigos. A cortina se fechou, aplausos pra Sizinho!

O poeta Marcus Vinícius homenageou o artista.

 

O último aboio

(Marcus Vinícius)

 

Não será um dia fácil!

Será um dia de despedida eterna!

Hoje será o dia do nosso último aboio contigo.
Será o corte do nosso vínculo material,
Mas você se tornou eterno em nossas vidas…

Você virou pipa e cortou a linha,
agora está na direção do infinito.

E o que é a vida?
É esse som do aboio Saído de dentro de cada um de nós:
vem, encanta, cria laços, nos molda,depois vai para a eternidade.

Não é fácil, a saudade vai nos martelando o juízo e o coração.

A vida é essa busca e esse mistério que nos rondam todos os instantes!

Nas suas buscas, nas suas andanças,
Você conseguiu realizar muitos dos seus sonhos:
ator, produtor cultural, aboiador, cangaceiro urbano,
pai, esposo, espiritualista, filho, amigo, cidadão!!!

Mas a gente não escapa dos mistérios da vida, não é mesmo?

Os mistérios são revelados!
Os mistérios são as caixinhas de segredos que vamos encontrando na nossa estrada,
Cada uma com a sua cor,
o seu tamanho e as suas essências.

Há mistérios que nos trazem riso e contentamento e nos sentimos realizados.

Há outros os que nos pegam distraídos
e aprontam coisas que não conseguimos compreender pelo coração humano.

Você, pelo mistério, subiu no seu cavalo e foi galopar

na eternidade como a um cordel do absurdo!

Só encontramos os acordes do seu aboio espalhados por aí…

Vai, amigo, vai na paz cumprir a sua jornada ou compor

a última estrofe do seu cordel inacabado.

Paz e luz.

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