Domício Arruda: Direto do Front

64643B08-2A97-452D-AF61-58949F0AB27FAlgumas profissões simplesmente desaparecem. Seus maiores coveiros, as novas tecnologias e mudanças de hábitos da clientela, o respeitável público consumidor.

Uma em particular, ainda persiste. Com a raridade de um político honesto.

Correspondente de guerra.

Na última, grande e mundial, dois brasileiros acompanharam bem de perto e fizeram suas histórias particulares.

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O homem de Assis Chateaubriand na Itália, Joel Silveira e Rubem Braga
 para o Diário Carioca.

Eram incorporados às tropas da Força Expedicionária, como militares. Soldados diferentes. No lugar da baioneta, uma máquina de escrever quase portátil.

Imagina-se as dificuldades.

Pelas condições em que trabalharam e como garantiam seus suprimentos. Fitas de máquina dactilográphica, filmes photográphicos e papel.                                         

E nem dá pra pensar como o escrito e fotografado chegavam na Rua do Livramento.

Os arsenais bélicos e as táticas de guerra foram mudando. Sempre com o testemunho,  bem de perto, do jornalista que incorporou ao seu armamentário, a câmera de TV.

A guerra de guerrilha no Vietnã sepultou o charme da profissão e a perna de José Hamilton Ribeiro, o último dos maiorais.

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No confronto globalizado, não se sabe nem se as brigas localizadas entraram em armistício não negociado ou se por lá também se pratica  o distanciamento e o isolamento social.

A cobertura sem reporteros presenciaistem sido omissa.

Falta interesse do público. Todas as atenções voltadas para o conflito em que, sem convocação nem treinamento, todos tiveram que se envolver. Sem ao menos pouparem os velhos ex-combatentes.

Os veículos de comunicação mantêm seus correspondentes nas principais cidades e nos centros de decisões. São especialistas em tudo.            

O importante é que estejam lá, sentindo o clima e adaptando as notícias ao jeito e modos brasileiros de recebê-las.

Agora,  passaram  a cobrir as invasões sorrateiras e anotar as baixas nos hospitais. E cemitérios.

Não contam mais com a proteção dos exércitos. Nem de ninguém. Trabalham sem retaguarda.

Mandam notícias do campo de batalha. Aberto, sem trincheiras.

Não mostram cenas de embates sanguinários.

Os palcos das ações violentas são limpos. Parecem assépticos. Parecem coisa de filme de ficção científica. Parecem. Só parecem.        

Não usam mais  coletes nem chapéus ramenzoni, com  o aviso press, de neutralidade.

Não são mais aventureiros românticos e solitários.

Também são vítimas.

Como são, suas mulheres, maridos e filhos, alvos das mesmas armas invisíveis e silenciosas.

Tão expostos, passam pelas mesmas privações da população civil e pacífica.

Ilze Scamparini, de Roma e Guga ChacraNova Iorque, são experientes profissionais, acostumados com a  cobertura de grandes eventos e tragédias. Enchentes, erupções vulcânicas, terremotos, atos terroristas.

Não contiveram as emoções nem lágrimas ao relatarem  o flagelo que atinge os lugares onde trabalham. E onde moram suas famílias.

Que os sinos não dobrem pelos nossos jornalistas.

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