Dia do Professor – A ingrata carreira de ensinar na Modernidade Líquida

Hoje, como em tantas vezes antes, vislumbrei o dia da profissão que, ingenuamente (e contra a vontade sábia de meu pai) abracei muito jovem. Já se vão mais de 20 anos, desde a graduação, passando pelo mestrado, doutorado, pelas salas de ensino básico, médio, superior e pós-graduação. Passando pelo ensino privado e agora no ensino público.

Tantas alegrias e amarguras. Algumas vitórias e inúmeras derrotas. Escrevi e li, falei bastante e acreditei mais ainda. Hoje, olho para trás e repenso em se vale a pena continuar. Se vale a pena ainda a dedicar o que me resta de saúde (pouca) e criatividade a falar aos quatro ventos em salas repletas de celulares e de rostos cansados da labutas e desacostumados da leitura.

Não ganhei nenhuma maçã e nenhuma homenagem. Afinal, não possuo mais redes sociais, apenas email e um telefone, máquina que ninguém realmente mais usa. Hoje, mais do que nunca, senti a imensa solidão da mais ingrata das profissões na era do “fake news” e da ideologia, onde somos culpados de tudo: da educação que a família não fornece em casa à falta de leitura que os jovens não querem executar.

Lá fora, somos saudados por reis, imperadores e executivos. Somos heróis sociais e construtores de culturas. Aqui, em meu Brasil, somos a maldição de um país que não precisa de educação, mas de falsa devoção religiosa e balas, muita e muita munição a ser descarregada.

Já tive mais de 6 mil alunos. Mais de seis milhares de pessoas passaram pelas minhas aulas de história, sociologia e outras matérias. Uma apenas me mandou um email singelo que muito me emocionou. A ela, agradeço de coração. A ela, sigo meu combate até que a vida, esta ingrata besta-fera, resolva me tirar o tanto que já me deu.

Aos demais colegas que ainda acreditam na educação, meus parabéns. Vocês são verdadeiros heróis.

Quanto a mim, longe das redes sociais, das mídias e, pela última vez, desta coluna, desejo ao meu Brasil toda a sorte do mundo que, infelizmente, nunca virá, pois ainda não abraçamos a educação como prioridade. E, talvez, nunca a abraçaremos.

 

Thadeu Brandão.

Sociólogo, Mestre e Doutor em Ciências Sociais
Professor Adjunto IV do Departamento de Ciências Humanas do Centro de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas da UFERSA
Docente Permanente do Mestrado Acadêmico em Cognição, Tecnologias e Instituições (PPGCTI/UFERSA)
Coordenador Acadêmico do Observatório da Violência – OBVIO/RN

Currículo: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4736200P7
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