Delator afirma que Temer pediu R$ 10 milhões em dinheiro vivo à Odebrecht
Segundo matérias publicadas no site BuzzFeed e na Revista Veja, o executivo Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht e um dos 77 delatores da empreiteira na Operação Lava Jato, afirmou que o presidente Michel Temer (PMDB) pediu R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht em 2014. O delator afirmou ainda que a quantia foi paga em dinheiro vivo ao braço direito de Temer, o ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Ainda segundo a delação, parte do dinheiro também foi repassada ao assessor especial de Michel Temer, José Yunes, de quem é amigo há 50 anos.
Michel Temer se encontrou duas vezes com Marcelo Odebrecht, uma vez em um jantar entre o empreiteiro e o atual ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha no Palácio do Jaburu. O segundo encontro teria acontecido em São Paulo, quando Temer estava acompanhado do ex-ministro do turismo, o Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN). Na delação, Cláudio Melo Filho acusa Henrique Alves de também ter pedido dinheiro aos executivos da empreiteira. O senador potiguar José Agripino também é um dos citados na delação.
A delação completa de Cláudio Melo Filho tem 82 páginas e detalha como a Odebrecht pagou propinas milionárias a políticos para ganhar licitações de obras por todo o país. No documento, o ex-diretor detalha que “Michel Temer atuava de maneira muito mais indireta, não sendo seu papel pedir contribuições financeiras para o partido, embora isso tenha ocorrido de maneira relevante em 2014”.
Segundo o delator, Temer pediu pessoalmente doações em um jantar em maio de 2014 para as campanhas daquele ano. O delator ainda cita Renan Calheiros (que tinha o codinome “Justiça” e teria recebido R$ 500 mil), além de Antonio Palocci, Eduardo Cunha, Ciro Nogueira, Jacques Wagner, Geddel Vieira Lima, Rodrigo Maia, Lúcio Vieira Lima, Gim Argello, José Agripino Maia, Kátia Abreu, Marco Maia e Arthur Maia.
Além dos citados acima, o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht lista deputados, senadores, ministros, ex-ministros e assessores da ex-presidente Dilma Rousseff que receberam propina. O delator apresentou à Polícia Federal e-mail, planilhas e extratos telefônicos, incluindo mensagens de Marcelo Odebrecht combinando o pagamentos a políticos, identificados por codinomes como “Justiça”, “Boca Mole”, “Caju”, “Índio”, “Caranguejo” e “Botafogo”.
Delator aponta Romero Jucá como principal interlocutor da Odebrecht no Senado
O ex-diretor da Odebrecht afirmou à PF que “seu principal interlocutor no Senado era Romero Jucá”, atual líder do Governo no Congresso, e disse ainda que Jucá “era o principal responsável pela arrecadação de recursos financeiros dentro do PMDB no Senado e a distribuição para as campanhas eleitorais” e que “os apoios aos pleitos da Odebrecht seriam depois equacionados no valor estabelecido para a contribuição a pretexto de campanha eleitoral, fosse oficial ou via caixa 2”.
Cláudio Melo Filho destacou que, ao longo dos anos, os pagamentos a Jucá superaram R$ 22 milhões. O delator afirmou ainda que quando conversava com Romero Jucá, sabia que Renan Calheiros, atual presidente do Senado, e o senador Eunício Oliveira (PMDB) também estavam cientes de tudo.
Michel Temer
O presidente Michel Temer divulgou uma nota à imprensa rechaçando as informações da delação de Cláudio Melo Filho.
“O presidente Michel Temer repudia com veemência as falsas acusações do senhor Cláudio Melo Filho. As doações feitas pela Construtora Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE. Não houve caixa 2, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente” declara.
Eliseu Padilha
“Não fui candidato em 2014! Nunca tratei de arrecadação para deputados ou para quem quer que seja. A acusação é uma mentira! Tenho certeza que no final isto restará comprovado”, disse o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, em nota.
José Agripino
O senador José Agripino se manifestou, através de sua assessoria, repudiando as declarações do ex-diretor da Odebrecht. Na nota, o senador ressaltou que não era candidato na época em que Temer teria pedido os R$ 10 milhões à empreiteira. “Em 2014 sequer fui candidato. “Desconheço e repilo os fatos citados”.
Romero Jucá
O senador Romero Jucá declarou que desconhece a delação do senhor Claudio Melo Filho e nega que recebesse propina para o PMDB. Em nota, Jucá afirmou que “está à disposição da justiça para prestar quaisquer esclarecimentos”.
Moreira Franco
“É mentira. Reitero que jamais falei de política ou de recursos para o PMDB com o senhor Claudio Melo Filho”.
Eunício Oliveira
“O senador nunca autorizou o uso de seu nome por terceiros e jamais recebeu recursos para a aprovação de projetos ou apresentação de emendas legislativas. A contribuição da Odebrecht, como as demais, fora recebida e contabilizada de acordo com a lei. E as contas aprovadas pela Justiça eleitoral”, afirma a assessoria de Imprensa do senador.