Cultura. Estamos à míngua de novo!

“Aí, mas como é triste/Essa nossa vida de artista…”

(Ednardo)

 

Era início de abril deste ano e a Secretaria de Cultura abria conversação com um grupo de artistas para discutir uma carta construída por 32 artistas com propostas de ações emergenciais como a programação do tal Mossoró Cidade Junina 2021 Virtual (MCJV) e o secretário anunciava que também lançaria “em breve” os editais do Prêmio Fomento Maurício de Oliveira, um dos principais instrumentos de apoio à cultura local.

O MCJV aconteceu de forma tímida, e alguns artistas, poucos privilegiados, foram contemplados com cachês que, segundo propalado, chegou a 2 mil reais em alguns casos. Mas, a grande maioria dos artistas mossoroenses continua à míngua neste ano ainda de pandemia.

Estamos em agosto e agora vemos a Secretaria de Cultura já está se planejando para o Mossoró Cidade Junina 2022. O agora que se dane. O Prêmio Fomento virou fumaça, não se fala mais, o foco agora é no ano que vem. Precisamente daqui a dez meses à frente. Sabe-se lá se estaremos vivos daqui pra lá.

Uma proposta de auxílio emergencial foi duramente rechaçada por políticos locais que, num jogo de empurra-empurra para saber de quem seria a responsabilidade por socorrer a classe artística, acabou penalizando, como sempre, a parte mais frágil da história. Adivinha quem? Isso mesmo, o artista.

Esta é a Mossoró cultural, entra gestor, sai gestor, nunca muda. Artistas tem que estar sempre de pires na mão, esmolando qualquer mixaria para (sobre)viver. A cidade que construiu seu nome em cima de uma cultura que quem olha de longe, chega a acreditar que é um paraíso cultural, mas quem vivencia a realidade, sabe que há mais engodo que verdade.

Não estamos muito diferentes em nível estadual. Depois de um sufoco no final do ano para cumprir prazos no final do ano passado para não devolver recursos ao Governo Federal; após a luta na Câmara e no Senado pelos partidos de esquerda para se conseguir aprovar o uso dos recursos não utilizados em 2020 ainda este ano, a Fundação José Augusto parece que gostou da experiência de deixar tudo para os 45 minutos do segundo tempo e até agora não deu qualquer sinal de vida a respeito dos novos editais da Lei Aldir Blanc. Um respiro que nos foi dado nestes tempos turbulentos, apesar da burocracia e também do caráter tão paliativo.

Em nível federal, em que “frias” nos metemos? Estagnados, vilipendiados, incendiados, assistimos o desmonte nacional iniciado pela ex-namoradinha do Brasil, ex-atriz e agora ex-ministra Regina Duarte, inócua, sabuja, ridícula. Agora, o ex-galã global Mário Frias dá continuidade a um processo de regressão em tudo o quanto envolva a pasta, hoje diminuída a uma secretaria, antes ministério, e ocupada por gente do quilate de Gilberto Gil (2003/08), Celso Furtado (1986/88), Antônio Houaiss (1992/93) e Sérgio Paulo Rouanet (1991/92), este último, nome da lei que deveria amparar a cultura brasileira, mas desomenageado pelos atuais gestores, uma lástima.

Como se vê, não está fácil ser artista no Brasil, nem no Rio Grande do Norte, muito menos em Mossoró. Estamos à míngua, de novo, como sempre!

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