Com governo em crise, Lula titubeia para decidir, evita Janja em reuniões políticas e mantém indefinição sobre 2026

A estreia de Sidônio Palmeira numa reunião do governo Lula (PT), com plano de comunicação debaixo do braço e discurso pronto para rádio e TV, aconteceu numa cena que marca a primeira grande derrota do governo junto à opinião pública e ao mercado: o anúncio do plano de corte de gastos combinado à isenção do imposto de renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, no fim de novembro.

 

Lula havia chamado uma reunião grande para debater o tema. Estavam na sala os ministros Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Paulo Pimenta (Comunicação Social), Alexandre Padilha (Articulação Política), Esther Dweck (Gestão) e o hoje presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Havia ainda representantes de Simone Tebet (Planejamento).

 

O presidente estava decidido a fazer um anúncio conjunto, das duas medidas ao mesmo tempo. Sidônio, que ainda não havia assumido cargo no governo, entrou na sala com uma campanha pronta debaixo do braço para bancar a dobradinha.

 

Haddad discordava. Disse a Lula que anunciar corte de gastos associado à isenção no IR, que na prática significa renúncia de receita, não iria funcionar nem para a base que Lula queria agradar nem para o mercado.

Diante do debate, o presidente inicia uma espécie de assembleia, na qual os presentes votariam: anúncios separados para o corte de gastos e para a isenção ou um pacote só. Haddad foi obviamente derrotado na votação. Ao lado do ministro da Fazenda argumentaram Tebet e Galípolo.

 

“Para mim, é essa reunião que marca o início da derrocada do governo”, diz um aliado de Lula. “Ali está o nascedouro de uma crise de confiança e da percepção de que Haddad não tinha força.”

Derrotado na “votação”, Haddad pede para despachar a sós com o presidente e sugere que apenas Galípolo esteja com eles na sala. Integrantes do governo que foram assuntar sobre relatam o seguinte: Haddad disse a Lula que o anúncio conjunto seria desastroso, que não surtiria efeito nem no mercado nem na base eleitoral, como queriam os colegas da Esplanada. Num gesto extremo, pediu que Galípolo dissesse claramente ao presidente o que aconteceria se as duas coisas fossem associadas.

“O dólar vai bater a barreira dos R$ 6”, previu o hoje presidente do Banco Central.

Lula não se dobrou. “Isso é decisão política”, disse.

O dólar de fato explodiu e o governo encerrou o ano com inflação de alimentos em alta, a moeda americana furando R$ 6,20 e uma evidente cisão interna.

 

Num requinte de crueldade da história, coube a Haddad fazer o anúncio do qual discordava. Em cadeia nacional, leu um texto desenhado por Sidônio. O publicitário ainda pregou o lançamento de uma campanha que sinalizasse “um Brasil mais justo para os brasileiros”. Ela chegou a ser anunciada por alguns colunistas na imprensa, mas não saiu do papel.

Deixe um comentário