Clauder Arcanjo – RELÓGIO DO TEMPO

Relógio do tempo

Para Zenaide de Almeida Costa

(In memoriam)

O raio de sol na varanda. No coqueiro, de frente a casa, o trinado do sanhaço.

De repente, uma nesga de luz fia o ar de Recife e depõe um brilho loução sobre o relógio de pé. O cuco ficou mudo, apesar dos ponteiros marcarem, fielmente, quinze horas.

O missal na cabeceira e o copo de louça vazio, como testemunhas. Um silêncio sertanejo arrepia o ar, e uma ventania corre na direção da Serra de São Miguel.

O padre chega atrasado para a extrema-unção. Desnecessária para quem construiu a história e, em especial, sua lírica vida em clave de dó.

O radinho de pilha solfeja uma canção: “Tem dó, tem dó… quem nunca viveu só”.

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República de tolos

No sol puro da manhã, as vozes dos tribunos. Zelo e probidade, até o cair da noite.

No vento impuro da madrugada, as negociatas da rês pública. Fúria e insanidade, até o cair do bem-comum.

No domingo, dia de descanso, felicidade coletiva, para o recobro das forças.

Clauder Arcanjo

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