Clauder Arcanjo: PÍLULAS PARA O SILÊNCIO (PARTE CXXXIII)

Para enganar o negrume circundante

 

O mundo e suas canções

de timbre mais comovido

estão calados, e a fala

que de uma para outra sala

ouvimos em certo instante

é silêncio que faz eco

e que volta a ser silêncio

no negrume circundante.

(Carlos Drummond de Andrade, em “Cantiga de enganar”)

 

Queixo-me ao mundo pelas más canções que me circundam, e um rumor, na sala contígua, de timbre mais persuasivo, apenas ecoa o silêncio que me inquieta.

No instante seguinte, volto, calado, a me enganar no negrume circundante.

 

***

 

Enfastiado de mim, agarro-me à zoeira do mundo, mas tal zoeira me atordoa ainda mais. Aborrecido, praguejo contra tudo, em vez de aplacar-me com uma cantiga de enganar.

 

***

 

Som de si apenas se descobre se se silencia em si.

 

***

 

Atento a tudo, vazio de todo, suspeito que há um princípio de som na garganta do nada. Intraduzível, se teimamos em concretizá-lo. Plausível, se aceitarmos, em seu parto, vocalizá-lo.

 

***

 

Ao cair da noite, descontente, arvoro-me em verbo; contudo, da garganta, acorre-me o oco do vácuo e… volto, humilde, aos braços do silêncio.

 

Clauder Arcanjo

[email protected]