Clauder Arcanjo – Fada de Licânia

Era uma vez…

Não era boa nem má. Tão somente por viver vagando sozinha nas ribeiras do rio Acaraú e, nos períodos de seca, ela descobrir flores onde os outros só encontravam espinhos, chamaram-na de Fada.

Alguns, sempre com os olhos de verão, quiseram jogar-lhe pedra, atirando-lhe, também, a pecha de bruxa.

Outros, com o coração empedernido, comentavam, em sussurros de inveja, que ela era uma perdida, uma mulher da vida.

***

É, de vez…

No entanto, certa manhã, quando a garotada, teimosa, foi catar frutos nos galhos já ressequidos, viram-na enfiando sementes e brotos no chão árido, aguando-os com suas próprias lágrimas. Em torno dela, uma legião de pássaros com bicos de prata.

Desde aquele dia — a senhora que, antes, não fora boa nem má —, recebeu o cetro de Fada de Licânia. Para nunca mais ser vista vagando, sozinha, nas ribeiras do rio.

Clauder Arcanjo

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