Chapecoense: Oito anos após acidente aéreo familiares e sobrevivente reforçam clamor por justiça
Globo Esporte
Em 29 de novembro de 2016, o avião que levava a delegação da Chapecoense para o jogo de ida da final da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional, na Colômbia, caiu nas proximidades de Medellín. Na aeronave estavam jogadores, comissão técnica, dirigentes e jornalistas.
Em 2018, a Aeronáutica Civil da Colômbia concluiu a investigação e confirmou que o acidente ocorreu por falta de combustível, como consequência da ausência de gestão de risco apropriada por parte da companhia aérea LaMia.
Naquela temporada, o time da Chapecoense entrou para a história do futebol, com a classificação inédita para a final da competição continental, chamando a atenção e ganhando reconhecimento internacional.
Saudade
Este 29 de novembro traz a saudade, mas também se tornou uma data para cultivar lembranças, demonstrar carinho e respeito à memória dos que nos deixaram.
– É sempre um dia de muita tristeza, aperto no peito, introspectivo e com muitas lembranças. Era um momento de tanta alegria e orgulho que, de repente, se torna o momento de desespero e dor imensurável – lamentou Vanusa Pallaoro, viúva de Sandro Pallaoro, presidente da Chapecoense na época do acidente, em entrevista ao ge.
– Até hoje não foi feita justiça pelo que houve, tudo que se descobriu nesse período sempre foi abafado, minimizado e nada feito. Apenas nessa data voltam a falar sobre o acidente e todas as vidas perdidas. As famílias lutam sozinhas por justiça, é uma vergonha nenhuma entidade do futebol estar ao lado dessa causa – enfatizou.
Memorial
No local onde o acidente aconteceu, pessoas prestam homenagens até hoje. Um memorial foi construído e a delegação da seleção brasileira feminina sub-20 visitou, em agosto deste ano, o local na cidade de La Unión.
A equipe estava na Colômbia para disputar o Mundial da categoria. As atletas participaram de uma solenidade cívica e em seguida visitaram a capela ecumênica onde há fotos de todas as vítimas. Após cumprir um minuto de silêncio em homenagem às vítimas, a delegação do Brasil colocou flores no local.
Relato de um sobrevivente
Neto, ex-zagueiro da Chapecoense, se tornou símbolo da luta por justiça e da preservação da memória das vítimas. O atleta tentou voltar ao futebol, mas não conseguiu, após ter ficado dois anos em tratamento. O jogador chegou a retornar aos treinamentos com bola, mas anunciou a aposentadoria, em 2019, aos 34 anos.
– Eu tive o privilégio de como atleta ser campeão catarinense, da Sul-Americana, ter minha melhor performance na Chapecoense. E depois como dirigente ser campeão da Série B, e hoje infelizmente eu sinto que a relação com o clube é distante, eu procuro guardar tudo o que eu vivi de bom – revelou Neto.
Neto foi o último sobrevivente a ser resgatado no acidente aéreo. Ele ficou internado por duas semanas na Colômbia. O ex-jogador desembarcou em Chapecó no dia 15 de dezembro de 2016.
O ex-goleiro Jakson Follmann e o lateral Alan Ruschel, foram outros jogadores que sobreviveram, assim como dois tripulantes da LaMia. O narrador Rafael Henzel, também sobrevivente do acidente aéreo, morreu em março de 2019 após sofrer um infarto durante um jogo de futebol com amigos.
Neto também participou, em 2019, junto com viúvas de atletas que perderam a vida no acidente, o presidente da Abravic (Associação Brasileira das Vítimas do Acidente) e três advogados, em Londres, de um protesto em frente à sede da Aon, empresa que alegava ter atuado como corretora do seguro da aeronave da LaMia, e da Tokio Marine Kiln, seguradora.
O ex-atleta cobra para que as seguradoras envolvidas indenizem familiares das vítimas. Segundo ele os processos estão tramitando mas a justiça não foi feita de acordo com o que deveria ter realmente acontecido. Neto disse sentir muito que os valores pagos às famílias, por parte do clube, tenham entrado na recuperação judicial da Chapecoense.
– A recuperação judicial era necessária, eu estive lá dentro e sei que precisava acontecer, mas me deixou triste envolverem os valores das indenizações para os familiares das vítimas nesse processo. Ficou abaixo do que precisava ser – pontuou.
– Eu sempre tento buscar justiça, principalmente para as viúvas, porque ficaram aqui mulheres sem maridos, filhos sem pais e pais sem os filhos. Eu tento fazer de tudo pra falar sobre o que aconteceu, porque a gente entende que foram vários erros, desde a contratação do voo até os que fizeram com que o avião caísse. A justiça é lenta e a gente espera que as famílias possa ser ressarcidas de alguma maneira – disse o ex-jogador.
Neto fez um jogo de despedida na Arena Condá, em 2023, com a presença de Ronaldinho Gaúcho, Popó e mais algumas celebridades.
– Esse dia 29 de novembro é uma data de muita reflexão, eu procuro ficar mais em casa, agradeço pela vida, eu não me vitimizo, procuro pensar que estou vivo. É claro que vem a saudade dos meus amigos que se foram, éramos unidos, uma família, as pessoas não voltam, infelizmente – finalizou.